O ex-presidente Lula, com sua reconhecida competência para definir estratégias eleitorais de sucesso, determinou ao PT, e aconselhou a presidente Dilma, a não tratarem o governo com descaso mesmo concedendo privilégio de atenção e investimentos à campanha eleitoral. Isso significa, em primeiro lugar, que os que não precisarem sair do cargo por sobrevivência política, devem ficar para não esvaziar o governo. Outra determinação de Lula, esta transmitida à cúpula partidária e às bancadas no Congresso, é a de cederem espaço aos aliados nos Estados de partidos que compõem o apoio ao projeto presidencial de Dilma. No plano federal, a prioridade absoluta tem que ser à eleição de deputados e senadores.
Lula disse aos petistas, em reunião na semana passada, que não adianta fazer oito governadores e não ter uma grande bancada na Câmara e no Senado, de preferência a maior para apoiar o governo e sustentar o que o projeto do PT vier a determinar.
"Num presidencialismo de coalizão, a prioridade é eleger para o Senado e a Câmara e abrir espaço para aliados nos Estados", foi o resumo da lição. Fazendo as maiores bancadas, o PT tem condições de evitar a situação que, hoje, considera absurda: um partido só, no caso o PMDB, presidindo as duas Casas. "O equilíbrio de forças é fundamental".
Tempo esgotado, Arno é demonizado até pelo PT
Essa avaliação do ex-presidente é acompanhada de um diagnóstico, aceito e absorvido pelos participantes da reunião em São Paulo: a crise da base aliada, e do próprio PT, com Dilma, se originou nisso, o partido não tinha número suficiente no Parlamento para firmar a programação do governo e liderar os aliados.
O PT se organiza para executar a estratégia das eleições proporcionais ao mesmo tempo que cuida para, no caso da reforma do governo, não perder densidade política na esplanada mesmo que poucos ministros saiam de fato. Como exemplo de quem não deve sair para uma candidatura contornável, Lula citou ao partido o caso do Carlos Gabas, secretário executivo do Ministério da Previdência. Muito ligado à presidente, foi na garupa de Gabas que Dilma, no início de agosto, deu uma fugidinha do Alvorada e da sua segurança, confirmada domingo pela "Folha de S.Paulo", para um passeio de moto pela cidade. O secretário não deve sair também porque o PT não quer deixar um ministério como o da Previdência nas mãos do PMDB, titular do cargo de ministro.
Lula já falou com Gabas, que não gostou mas vai ficar. Aloizio Mercadante (Educação), fica, bem como Paulo Bernardo, das Comunicações. César Borges, dos Transportes, solução encontrada recentemente, fica, como o chanceler Luiz Figueiredo, que acaba de ser nomeado. O ministro da Defesa, Celso Amorim, fica também. Planejamento e Fazenda continuam com os petistas Miriam Belchior e Guido Mantega.
Na formulação a que o PT teve acesso não deve deixar o governo o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que está no comando da execução dos dois grandes eventos a terem sede no Brasil, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também está na lista dos que ficam.
As candidaturas certas e prioritárias para Lula e o governo são as de Alexandre Padilha, que só sairá do palanque do Ministério da Saúde à última hora porque precisa do cargo para criar uma marca e tornar-se conhecido em São Paulo, modelo de candidatura que Lula executou para a própria Dilma e para Fernando Haddad. Fernando Pimentel também está, neste momento, mais candidato do que não candidato, e sua saída não representará perda de espaço para o partido, que pretende manter o Desenvolvimento, embora não necessariamente com um quadro partidário. Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, será candidata, até o momento, e terminam por aí os cargos importantes que devem ficar disponíveis.
No máximo, avaliam petistas que estão próximos às discussões do Planalto e à orientação do ex-presidente Lula, pode haver uma troca de postos. Por exemplo: Mercadante pode ir para a Casa Civil, contudo, já esteve mais perto dessa transferência do que está hoje, mas ainda pode ir. Outra ideia para a Casa Civil, que parece ser a preferida do momento, é a da triangulação: Miriam Belchior vai para a Casa Civil e Paulo Bernardo volta para o Planejamento. Outra hipótese é promover uma reorganização em algumas pastas de forma que os Ministros tenham uma responsabilidade mais nítidas. Disso é exemplo o Ministério da Defesa. O ministro Celso Amorim teve subalternos envolvidos na crise com a Bolívia, não sabia e não foi acusado de fraco, nem perdeu o cargo como ocorreu com o chanceler Antonio Patriota. Também não lhe foi atribuída responsabilidade por não alertar a presidente sobre a espionagem dos Estados Unidos à correspondência e diálogo com seu staff, uma questão considerada de defesa nacional e soberania. Por outro lado, sua agenda continua lotada de assuntos diplomáticos, área em que esteve no governo Lula. Ontem, marcou para as 10 horas um encontro com o embaixador para assuntos do Oriente Médio, Cesário Melantonio, e às 15 horas uma audiência com o diretor do Instituto Rio Branco, embaixador Gonçalo Mourão. Questões administrativas? A confusão é grande.
Nada ainda é decisão transitada em julgado, são conversas das quais tem participado a cúpula do PT. As mudanças consideradas prováveis são periféricas. Porém, a discussão mais animada no PT sobre a reforma do governo localiza-se no segundo escalão: a permanência de Arno Augustin, o secretário Executivo do Ministério da Fazenda, já não é mais cláusula pétrea.
Se tinha apoio incondicional do PT, especialmente o do Rio Grande do Sul, o secretário do Tesouro Nacional é, hoje, demonizado no partido. Líderes da legenda no Congresso avaliam que o tempo de permanência de Arno no cargo está se esgotando e não se surpreenderiam se ele saisse até antes dos demais, no fim do ano. Nessa visão renovada do PT sobre o enfant terrible da Fazenda, o secretário avançou nas suas intervenções em assuntos econômicos mais do que podia, comprometeu a credibilidade das contas públicas com arranjos exóticos e é uma pessoa "truculenta" nas argumentações. Não se deve afastar, porém, a chance de Arno permanecer no cargo porque a presidente não gosta que ninguém se antecipe às suas decisões.
Fonte: Valor Econômico
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