Por Cristian Klein
SÃO PAULO - Defensor do apoio do PSB à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o governador do Ceará Cid Gomes encontrou-se ontem, em Fortaleza, com o deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), que está criando o partido Solidariedade (SDD). Na reunião, trataram da formação da legenda no Estado, onde cinco deputados estaduais da base de apoio do governador têm interesse em trocar de sigla. Paulinho da Força pediu que Cid consiga a adesão de pelo menos um deputado federal, regra que tem sido aplicada para a construção do Solidariedade nos demais Estados. A situação deve ser resolvida até sexta-feira.
Em colisão com a candidatura ao Planalto do presidente de seu partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, Cid Gomes nega que sairá do PSB. Diz que atua apenas como um mediador entre os parlamentares e Paulinho da Força. Mas questionado se pode controlar o Solidariedade em seu Estado, por meio da indicação de um nome de sua confiança, o pessebista deixa a possibilidade em aberto. "Não sei, isso tudo será conversado". Como não pretende disputar cargo eletivo no ano que vem, Cid está menos pressionado que os deputados de sua base, os quais afirma estão angustiados. O prazo mínimo de um ano de filiação prévia para disputar a próxima eleição termina em 5 de outubro.
Em mais uma investida contra o projeto presidencial do líder nacional do PSB, o governador do Ceará afirma que, caso Eduardo Campos concorra, não deverá ultrapassar uma votação de 10%. Para Cid, o que estará em jogo na eleição do ano que vem será um confronto entre a afirmação e a negação da política - o que tenderia a levar a ex-ministra Marina Silva (sem partido) ao segundo turno.
Em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, Cid Gomes faz seu prognóstico: a presidente Dilma Rousseff ficará com 40%, Marina alcançará cerca de 20%, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o também tucano José Serra - o ex-governador pode mudar de partido para concorrer pela terceira vez à Presidência - conseguirão por volta de 13% e 14%. Campos esbarraria no teto de 10% e terminaria, neste cenário, em quinto lugar, pela lógica da disputa e pela falta de estrutura partidária. "Quem é que tem mais estrutura. O PSDB ou o PSB? Para mim, o PSDB tem mais estrutura. Marina também não tem, mas canaliza um sentimento de protesto", afirma.
Na semana passada, pelo Twitter, Cid criticou o encontro entre Eduardo Campos e Aécio, na casa do governador de Pernambuco, no Recife. Ali, os dois prováveis adversários em 2014 selaram acordos para unir esforços contra a força do governo federal. "Isso nega toda a nossa história. Fomos oposição ao PSDB", critica.
O governador vê como ruinosa a solução de Campos de dividir palanques estaduais com outros candidatos ao Planalto. A estratégia tem um objetivo duplo: favorecer a entrada do presidenciável em Estados onde não é forte, como São Paulo e Minas Gerais, e permitir que os cinco governadores do PSB eleitos em 2010 com o apoio do PT possam apoiar Dilma e Campos ao mesmo tempo, sem quebrar a aliança. "Se o PSB tiver candidatura, ela será abandonada por pragmatismo em boa parte dos Estados. Palanque duplo ou triplo é a mesma coisa que abandonar a candidatura. Releva o candidato presidencial", afirma, ao adiantar que, no seu caso, fará mais do isso. "Essa história de palanque duplo, me perdoe. Jamais terei dupla posição", diz.
Cid Gomes prevê que o voto de protesto, representado por Marina Silva, não será majoritário. Mas ficará à frente do PSDB de Aécio Neves, que, em sua opinião, não consegue reunir o pensamento conservador. O senador, diz, "é muito bom em Minas", mas não tem penetração em São Paulo e no Sul. "Daí essa persistência do Serra. O conservadorismo paulista não votará em Aécio, não engole uma candidatura de Minas. E não é Eduardo que vai catalisar esse voto. Serra está vendo isso", afirma.
Com Serra - convidado a se transferir para o PPS - no páreo, a candidatura de Eduardo Campos praticamente sacramentaria a necessidade de um segundo turno. "É razoável pensar que Dilma tem 40% em qualquer cenário, na pior das situações. Eduardo tem 7%, é preparado, inteligente, pode crescer e chegar a 10%, exatamente o que daria a Dilma a possibilidade de vitória no primeiro turno. Se nosso partido tiver candidato, claramente viabiliza o segundo turno, que não sei a quem interessa, embora seja legítimo", argumenta Cid Gomes, lembrando que a meta da oposição hoje é impedir que Dilma vença no primeiro turno.
O potencial de Campos seria de apenas 10%? "Não tenho bola de cristal, mas o natural é isso", diz.
A possibilidade de a candidatura de Eduardo Campos em 2014 servir a uma estratégia de longo prazo do PSB para torná-lo conhecido nacionalmente na eleição seguinte, em 2018, não convence Cid Gomes. "Mas por que estes argumentos não valeram para 2010? Estávamos encerrando um ciclo, era o fim do governo Lula. Na época, o Ciro [Gomes, ex-ministro, irmão de Cid] tinha 17% nas pesquisas, a Dilma entre 7% e 10% e o partido preferiu a Dilma. Não estou com ressentimento. Mas hoje o Eduardo tem 7% e estamos no meio de um ciclo de governo do qual participamos. O que mudou? Em 2010, compreendi. Meu irmão foi sacrificado e o partido fez a opção de se beneficiar regionalmente", diz.
Fonte: Valor Econômico
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