O PMDB começa a virar novamente aquela pensão em que várias famílias convivem, mas um desconfia do outro.
Aos poucos, o PMDB vai voltando à velha forma da divisão interna. Principalmente, no protagonismo na aliança com o PT. Os parlamentares do partido começaram a perceber uma disputa velada entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e outras rusgas internas. Se brincar, está em gestação mais uma daquelas divisões em que vai cada um para um lado na sucessão presidencial. Aquela velha fórmula que Lula adotara colocando todos os segmentos sob o seu governo na pré-campanha pela reeleição em 2006 acabou.
Embora de público todos digam que está tudo bem, deputados e senadores são praticamente unânimes em confidenciar que a relação está delicada, seja do PMDB com o próprio PMDB, seja do PMDB com o governo, e, ainda, do PMDB com o PT.
Mas, vamos por partes. Na relação interna, Renan não gostou do fato de Henrique Alves ter ido tratar dos vetos com a presidente Dilma e decidido que nem todos entrariam em pauta. Afinal, o presidente do Congresso é o senador e caberia a ele, Renan, definir o que deveria ser votado.
Não por acaso, depois desse episódio, a presidente Dilma foi até o Congresso. Na entrega do relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher, Dilma não só marcou a importância do tema, como também afagou o peemedebista. Muitos repararam que, antes e depois da solenidade, ela passou muito tempo conversando com Renan, sem dar a mesma atenção ao presidente da Câmara.
Essas rusgas de atenção e vaidades, no entanto, são as menores, uma vez que o PMDB começa a virar novamente aquela pensão em que várias famílias convivem, mas um desconfia do outro. Uma das famílias congrega Renan, o ex-presidente do Senado José Sarney e o líder do partido, senador Eunício Oliveira. Eunício tem ficado mais com a bancada, enquanto os outros dois vivem uma relação mais pacífica com o Planalto.
Na Câmara, as famílias são mais diversificadas. Uma congrega o grupo de Geddel Vieira Lima (na Câmara, representado pelo irmão Lúcio Vieira Lima), o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, e o presidente do Instituto Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha. A outra é capitaneada pelo líder Eduardo Cunha, que a cada dia amplia sua influência na bancada, uma vez que não dá um passo sem combinar ou avisar a um expressivo grupo de seus pares. Eduardo Cunha cresceu tanto no papel de líder do PMDB que muitos chegam ao ponto de dizer que, se Henrique Alves não abrir o olho, será engolido pelo seu sucessor em termos de influência dentro do partido.
O patriarca dessas famílias, ou capitanias, ainda é o vice-presidente da República, Michel Temer. Mas há quem diga que o fim de seu reinado se aproxima. Michel terá que agir com firmeza e paciência se quiser manter seu partido na aliança com a presidente Dilma e o PT. Afinal, hoje, dadas as aspirações dos peemedebistas em termos de palanques estaduais, a aliança corre sérios riscos e nenhum dos grupos dentro do PMDB se mostra disposto a perder poder nos estados para preservar a vaga de vice. O raciocínio é o inverso: se para ter o poder no estado for preciso dar um chega pra lá na aliança com o PT, assim será.
O PMDB não hesitará em largar Dilma e, por tabela, o próprio Michel Temer, caso a presidente chegue em baixa na campanha eleitoral. Mas essa “largada” não será agora nem de uma vez. Afinal, é preciso esperar para ver como estará cada pré-candidato a presidente em 5 de outubro, quando termina o prazo de filiação partidária para os candidatos a algum mandato eletivo no ano que vem. Especialmente José Serra, que deve apresentar sua posição final nos próximos dias. Há quem jure que Serra deixará o PSDB, até para se manter no jogo da sucessão. Ele e a Rede de Marina Silva são as incógnitas do momento. E pode ter certeza, leitor: cada um dos pré-candidatos terá um pedacinho no PMDB na campanha. É a velha formação de um pé em cada canoa dentro da máxima “dividir agora para governar depois”, seja o presidente quem for.
Por falar em governar…
Para sorte da presidente, essas semanas até 5 de outubro devem seguir sem muitas pressões políticas da base aliada sobre o Planalto. O Congresso está às voltas com as repercussões negativas da preservação do mandato de Natan Donadon, que certamente dará novo fôlego às manifestações do próximo sábado, 7 de setembro. Além disso, os deputados estarão mais empenhados em conquistar espaço e tempo de tevê para 2014, deixando a escolha do candidato presidencial para depois do prazo de filiação.
Outro fator que ajuda Dilma nesse momento é a grata surpresa do Produto Interno Bruto. Os resultados positivos graças ao setor agropecuário deram uma lufada de ar fresco ao seu governo. E se a economia respirar sem a ajuda de aparelhos, o poder de atração da presidente continuará forte. O problema, entretanto, é segurar o PT nesse período. Não dá para o partido de Dilma aproveitar a fase boa e tripudiar em cima dos aliados nos estados ou no governo porque, se tem algo que vale para tudo na vida, é a incerteza sobre o dia de amanhã. De certo, no momento, só mesmo a divisão do PMDB e a pré-candidatura de Dilma.
Fonte: Correio Braziliense
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