Forte reduto político de Dilma, o Nordeste sofreu três grandes blecautes em sua gestão, o que força a presidente a agir no setor
Um grande apagão por ano
Ex-ministra de Minas e Energia, presidente Dilma tem o desafio de recuperar o sistema energético brasileiro
Felipe Lima e Giovanni Sandes
Não bastassem as turbulências política e econômica, a presidente Dilma Rousseff vive um inferno astral na sua área de origem, a energética. Ela começou no Rio Grande do Sul como secretária estadual de Minas e Energia e foi nesse setor que, com sua fama de gerente eficiente, aos poucos alçou voo para a principal cadeira do Planalto. Após assumir a Presidência da República, porém, Dilma amarga a média de ter em seu governo ao menos um grande apagão por ano no Nordeste, importante reduto político nas três últimas eleições - e uma região que, certamente, pesará no embate de 2014.
Nenhum governante quer apagões em seu governo pelo dano político. A própria expressão "apagão" nasceu do racionamento nacional de energia em 2000 e 2001, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, quando a falta de planejamento deixou o País inteiro no risco de ficar sem luz. Além do custo político, há também o financeiro.
Segundo técnicos do governo federal, só no blecaute da última quarta-feira o prejuízo no Nordeste chegou a R$ 385 milhões.
A causa do novo apagão seria uma queimada abaixo de uma linha de transmissão, os longos cabos que levam a energia das usinas até as distribuidoras estaduais, como a Celpe, que fornecem para cidadãos e empresas.
"Interrupções de energia geram grandes prejuízos. Um sistema que nunca desligue é muito caro, a gente entende. Mas é preciso no mínimo questionar se não há algo a se fazer. Uma queimada não deveria desligar toda uma região", diz Camila Schoti, coordenadora de Energia Elétrica da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace).
Em 3 de fevereiro de 2011, foi uma falha em uma placa eletrônica do tamanho de uma caixa de pizza que iniciou um apagão de até 4 horas em algumas localidades do Nordeste. Ano passado se descobriu que a demora na volta da luz ocorreu por trapalhadas como a dificuldade em se abrir um mero portão.
Em 2012, os blecautes se espalharam no País. O Nordeste apagou em outubro. "O que temos visto é a frequência com que os problemas estão ocorrendo, que já deixou de ser razoável. É um indicador forte de que as escolhas do setor elétrico não estão sendo bem sucedidas", afirma Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
Uma das fraquezas do Nordeste é consumir 8 mil megawatts (MW) e gerar 6 mil MW, ou seja, mesmo com usinas, "importar" energia do Sul e Sudeste.
"Isso já nos torna, infelizmente, dependentes do sistema. E o ponto mais frágil do conjunto são justamente as linhas de transmissão que cortam Tocantins e Piauí. Quando há um problema como ocorreu semana passada, há algo como uma queda de um castelo de cartas", conta João Paulo Aguiar, diretor do Instituto Ilumina.
"Essas linhas de transmissão são como autopistas de energia. Automaticamente, softwares do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinaram o desligamento de linhas seguintes e a região ficou sem abastecimento. É, grosso modo, como o disjuntor de uma casa desligar quando há grande oscilação de energia. Se isso não ocorresse a variação seria de tal maneira que os reflexos seriam graves", conta Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em tese, poderia haver redundâncias, mais linhas entre a mesma origem e destino. Mas a conta é muito cara para uma rede apenas reserva - o Brasil possui hoje 100 mil quilômetros de linhas, duas voltas e meia na Terra pela Linha do Equador.
Só há redundância em Itaipu Binacional, a usina entre o Brasil e o Paraguai que atende 20% do País, uma área crítica. "Em um linha como a que resultou no apagão de quarta-feira, não há justificativa para mais de uma rede de transmissão", esclarece Nivalde.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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