Partido não chegou a consenso sobre desembarque do governo de Campos
Em 1994, petistas enfrentaram dilema para decidir sobre apoio a Miguel Arraes, avô do atual governador
Daniel Carvalho
RECIFE - Na reedição de um debate de quase 20 anos atrás, o PT de Pernambuco começou a decidir ontem se entrega os cargos que mantém nas gestões do PSB do governador e presidenciável Eduardo Campos e de Geraldo Julio, prefeito do Recife.
A discussão remete a um dilema enfrentado pelos petistas em 1994, quando se dividiram sobre apoiar ou não a campanha do avô de Campos, Miguel Arraes (1916-2005), que acabou eleito naquele ano governador.
Na ocasião, o PT pernambucano começou defendendo candidatura própria, mas optou ao fim pelo apoio a Arraes como forma de se opor ao PFL (atual DEM).
Para o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, o PT-PE sempre manteve atitude "dúbia" em relação ao PSB, mas hoje a discussão é mais pragmática e menos de ideias.
"Não é um debate tão ideológico como nos anos 1980 e 1990. Hoje é mesmo em função de ocupar cargos ou não, entregar ou não", diz.
O tema foi pauta de reunião realizada ontem em São Paulo entre petistas pernambucanos e a Executiva Nacional do partido. A decisão final só deve ser anunciada amanhã, no Recife.
O PT tem 25 cargos no governo Campos, entre eles o de secretário da Cultura. Também comandava a pasta de Transportes, mas o titular trocou o partido neste mês pelo PSB. Na prefeitura, comanda a área de Habitação.
No mês passado, o PSB anunciou a entrega dos cargos que mantém no governo federal, primeiro ato concreto rumo à candidatura presidencial de Campos em 2014.
Diante do movimento do governador de Pernambuco, o PT nacional disse que não faria ação semelhante porque os cargos nas gestões estaduais do PSB que integra pelo país (Amapá, Espírito Santo, Piauí e Pernambuco) sempre estiveram à disposição.
Em Pernambuco, o grupo petista ligado ao senador Humberto Costa e aos deputados federais João Paulo e Pedro Eugênio, presidente do PT-PE, anunciou nesta semana a disposição de deixar o governo Campos.
"Entendemos a necessidade de entrega dos cargos para ficarmos na mesma condição do governador, à vontade", disse João Paulo.
Do outro lado da briga, o ex-prefeito do Recife João da Costa e o presidente do PT do Recife, Oscar Barreto, que é vice da pasta da Agricultura de Campos, querem protelar ou até evitar o desembarque.
"O que defendo é por convicção política e não por oportunismo político", afirma Barreto.
Os conflitos internos do PT-PE se agravaram no ano passado, após a direção nacional do partido impedir a tentativa de reeleição de João da Costa no Recife.
Houve intervenção, e Humberto Costa foi o candidato petista, ficando em terceiro lugar, encerrando hegemonia petista de 12 anos na cidade.
Fonte: Folha de S. Paulo
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