domingo, 20 de outubro de 2013

O desafio de seduzir 55 milhões de eleitores

Quem quiser subir a rampa do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2015 terá que conquistar votos de um público considerado independente e sofisticado pelos analistas. Essa parcela da população aguardará o desenrolar da corrida presidencial para escolher o candidato que apresente as melhores propostas

Paulo de Tarso Lyra

Um batalhão de 55 milhões de eleitores tira o sono dos candidatos à Presidência da República em 2014 e dos respectivos marqueteiros e estrategistas das campanhas. Esse contingente, maior que as populações da Espanha, do Canadá e da Argentina e quase do tamanho da Itália, corresponde aos 40% de eleitores brasileiros que não estão cristalizados em torno de um partido político ou de um candidato apoiado por grupos específicos. Eles migram de um nome para o outro, ou atrasam a definição sobre quem apoiarão, em busca do candidato que atenderá os anseios e as expectativas particulares.

Os políticos estão aprendendo que classificar esse grupo meramente como “indeciso” é um risco. Pelo contrário, essa parcela da população é considerada mais madura do que os eleitores cativos. “Eles são muito mais exigentes, esperam para ouvir as propostas de cada um e analisam com cuidado tudo o que ouvem. É preciso mais sofisticação para convencê-los”, acredita o secretário-geral do PT, deputado federal Paulo Teixeira (SP).

Alguns fatores concretos podem ajudar a sedimentar o apoio do eleitorado, como, por exemplo, a indicação do candidato por um padrinho famoso. Foi o caso de Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Dilma Rousseff. A composição dos palanques regionais também pesa (veja página 3), ou até mesmo a sugestão de última hora feita por um amigo. Em 2010, por exemplo, 8% dos eleitores confirmaram que escolheram o candidato no momento em que estavam na fila de votação.

A flexibilidade é a marca do voto desse eleitorado. Especialistas em eleições acreditam que esse público estava com Lula em 2006, mas o abandonou após o escândalo dos aloprados (quando petistas foram presos em setembro daquele ano ao comprar um suposto dossiê contra o tucano José Serra), forçando a realização de um segundo turno. Esses mesmo eleitores voltaram a apoiar Lula, mas o petista teve que enfrentar mais um mês de campanha contra o tucano Geraldo Alckmin. Em 2008, os independentes afastaram-se do técnico Márcio Lacerda (PSB) — que concorria à prefeitura de Belo Horizonte — e chegaram a flertar com o principal adversário, Leonardo Quintão (PMDB). Não aprovaram as propostas do peemedebista e voltaram para Lacerda.

Os analistas estão convictos de que esses eleitores independentes definirão o rumo da corrida presidencial de 2014. Em linhas gerais, eles representam cerca de 40% do eleitorado nacional, mais do que tem o PT, que geralmente soma cerca de 30% dos votos das disputas em diversos níveis, e o PSDB — que costuma largar com margem inicial de 25%. Os 5% restantes costumam se dividir entre votos brancos e nulos.

Programas sociais
Embora esses percentuais e estejam espalhados pelos diversos níveis sociais, não é exagero dizer que a votação do PT se concentra nos centros urbanos e nas periferias e também se entranhou nos grotões brasileiros, sobretudo após a multiplicação de programas sociais, como Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, o Luz para Todos e o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), destinado aos pequenos produtores rurais. Esses grupos tendem a votar no governo caso não haja grandes mudanças de rumo administrativo, em especial nas políticas de assistência.

O PSDB divide um pouco desse eleitorado com o PT — com uma presença menos forte no interior do país —, mas seus simpatizantes defendem um estado mais liberal, com um perfil de gestão descentralizado e com impostos menores.

Já o grupo considerado independente passa, quase que em sua maioria, pelas pessoas que têm mais informação para escolher os candidatos. Também encontram-se nessa parcela de eleitores, segundo a opinião de especialistas ouvidos pelo Correio, os mais jovens, ainda não influenciados pela polarização entre tucanos e petistas. Esse público ganhou peso ainda maior após as manifestações de junho e terá atenção especial dos marqueteiros durante a fase de campanha em 2014. Os estudantes foram às ruas mobilizados pelas redes sociais — aproximadamente 80% dos 10 milhões de jovens que compareceram a manifestações atenderam a apelos via internet.

Ao menos na teoria, a ex-senadora Marina Silva sai na frente dos rivais em relação a esses eleitores, pois passou a imagem de ter uma forma diferente de fazer política, apesar de ter se filiado ao PSB após a Justiça Eleitoral negar o registro da Rede, no início do mês. “Mas a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves tem estrutura e capacidade de virar esse jogo, ainda favorável à ex-senadora”, disse o diretor de um instituto de pesquisas que preferiu não se identificar.

Para o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, Dilma ainda é pouco influente em relação a esses eleitores independentes. “Quando enfrenta candidatos menos competitivos ou mais desconhecidos, como Eduardo Campos e Aécio Neves, ela tem 42% das intenções de voto. Diante de nomes com maior recall, como José Serra e Marina Silva, esse percentual cai para 37%”, lembra Queiroz.

Fonte: Correio Braziliense

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