segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Quem diria... Operação de guerra protege hoje leilão do pré-sal

Forte esquema de segurança foi montado pelo Exército, desde a madrugada de domingo, nas proximidades do Hotel Windsor, no Rio. O aparato é para reprimir possíveis manifestações contra a privatização do Campo de Libra, a maior reserva nacional de óleo e gás em águas profundas

Operação de guerra

Governo promove hoje leilão do Campo de Libra, o maior do pré-sal. Exploração do petróleo deverá movimentar R$ 3,7 trilhões em 30 anos

Sílvio Ribas

Seja lá qual for o consórcio vencedor do leilão de hoje do Campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos (RJ), o desenvolvimento da exploração de petróleo e gás no país vai iniciar uma nova trilha, com repercussões no mercado global. Cercado por um forte esquema de segurança, com apoio do Exército, para barrar a presença de manifestantes contrários, e um mutirão da Advocacia-Geral da União (AGU) para cassar liminares da Justiça destinadas à suspensão, o certame terá sérios desdobramentos.

A abertura dos envelopes em um hotel do Rio de Janeiro com a proposta vencedora, a do maior percentual destinado à União do óleo excedente na produção, colocará em marcha investimentos de US$ 1,7 trilhão (R$ 3,7 trilhões) ao longo dos 30 anos de concessão. Neste período, devem ser criados pelo menos 87 milhões de empregos. Estão no páreo nove empresas. Mas ainda há dúvidas quanto ao número de consórcios participantes. Os mais pessimistas falam em apenas um, liderado pela Petrobras em associação com as chinesas CNOOC e CNPC. O Palácio do Planalto acredita em um segundo grupo, que pode reunir a anglo-holandesa Shell e a francesa Total.

Para evitar transtornos, sobretudo diante da ameaça dos petroleiros contrários à privatização de Libra de invadirem o leilão, desde a madrugada de domingo, o Exército montou uma operação de guerra nas imediações do Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, onde ocorrerá o certame. A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) vai até a meia-noite de hoje. Os militares estão equipados com escudos e armados com escopetas, lança-bombas de gás lacrimogêneo e armas com balas de borracha. Além das tropas federais do Exército, a segurança terá o reforço da Marinha do Brasil, da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Militar do Rio. O efetivo total é de 1,1 mil pessoas.

Os órgãos de segurança estão orientando a população a evitar a região, uma vez que postos de controle permitirão acesso exclusivamente de pessoas credenciadas e de moradores que tragam consigo um comprovante de residência. A polícia militar informou que os agentes vão operar em pelo menos 15 pontos de interceptação na Barra. A Secretaria Municipal de Transportes e a CET-Rio implantaram um esquema especial de trânsito. A área do hotel foi completamente interditada, com bloqueio na Avenida Lúcio Costa (na orla), entre as ruas John Kennedy e Deputado José da Rocha Ribas. Ônibus também tiveram os itinerários modificados. Hoje é feriado do comércio no Rio.

Regime de partilha
René Rodrigues, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), aposta numa reavaliação do modelo adotado para o pré-sal, diante dos resultados a serem aferidos no leilão de hoje. “O governo fez um grande esforço e o marco regulatório é plenamente legal e juridicamente perfeito. A questão é saber se o sistema de partilha se sustentará no longo prazo e os impactos que deixará no caminho”, diz.

O percentual de participação da Petrobras no consórcio — se vencedor — poderá, por exemplo, representar um grave desafio ao seu caixa atual, mas melhores dias na próxima década. Com grave aperto financeiro, produção estagnada desde 2009, elevado endividamento (R$ 176 bilhões) e ameaça de rebaixamento de sua avaliação de risco de crédito, a estatal está impossibilitada de ir muito longe.

Sua presidente, Graça Foster, chegou até a lamentar em público não poder explorar 100% de algo que encontrou e desenvolveu. Ao impor a regra de que a petroleira brasileira deve ter no mínimo 30% de participação no campo, o governo desestimulou a entrada do setor privado. A diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, esperava por “mais de 40” participantes. Mas gigantes como Exxon Mobil, BP, BG Group e Chevron preferiram ficar de fora.

O primeiro efeito da privatização será, contudo, para o caixa do governo, com o pagamento de um bônus de R$ 15 bilhões pelos vencedores. O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que o governo arrecadou 60% (R$ 9 bilhões) desse montante em todos os 10 leilões de concessão já realizados pela ANP, desde 1999. Mas há ainda analistas que enxergam nesse evento histórico um efeito potencial negativo sobre as cotações futuras do óleo.

Para Adriano Pires, diretor do CBIE, grandes operadoras internacionais desistiram de Libra ao analisar as condições exigidas, uma combinação de grandes volumes, riscos e investimentos em águas ultraprofundas. “Isso poderá afetar o valor dos barris produzidos no pré-sal”, comenta.

Fonte: Correio Braziliense

Um comentário:

Cidadania e Democracia disse...

Um bom esquema de segurança é muito importante para que nada ocorra.