Por Raymundo Costa e Bruno Peres
BRASÍLIA - Um inusitado pedido de demissão expôs ontem a dificuldade para a reedição da aliança PT-PMDB nas eleições presidenciais de 2014 e abriu de maneira inesperada a temporada de mudanças no primeiro e segundo escalões do governo federal. Demissionário desde setembro último, o vice-presidente para Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, recorreu às redes sociais para que sua saída do cargo seja concretizada.
"Cara presidenta Dilma, por gentileza, determine a publicação de minha exoneração da função que ocupo, e cujo pedido já se encontra nas mãos de Vossa Excelência", escreveu Geddel em sua conta no Twitter. Mais tarde, Geddel disse ao Valor que não considerava "decente, do ponto de vista político, entrar o ano" num governo que não deve apoiar nas eleições de outubro de 2014. "Fui para a Caixa em função de uma engenharia política construída em 2010 que não deve se repetir em 2014". Nas eleições passadas, Geddel disputou o governo da Bahia com o petista Jaques Wagner num acordo, segundo ele, de palanque duplo na Bahia que não foi cumprido. A presidente fez campanha apenas para Wagner.
Geddel atribui a separação "às circunstâncias da política". Por isso não "há briga nem mal estar com a presidente da República". Geddel pretende concorrer novamente ao cargo de governador da Bahia numa aliança com os partidos de oposição - DEM e PSDB. A posição do pemedebista, na realidade, é a mais cobrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto à cúpula do PMDB e do vice-presidente Michel Temer. Lula insinua que Geddel é mal-agradecido, pois foi seu ministro com a aprovação do governador Jaques Wagner. O caso baiano expõe também uma situação que o PT quer evitar: o apoio de seções do PMDB aos eventuais candidatos da oposição, Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB).
O pedido público de demissão causou atropelos em Brasília. Geddel pediu para sair, em setembro, ao vice Michel Temer. "Foi ele quem me indicou". Temer pediu um tempo para costurar a indicação do sucessor. O tempo passou, Geddel foi cobrado por petistas na Bahia e ontem resolveu botar um ponto final na situação. Apanhada de surpresa, a Casa Civil solicitou que Geddel enviasse uma carta por escrito, com a data de ontem. O pemedebista mandou um e-mail para a ministra Gleisi Hoffman dizendo que "reiterava" o pedido feito em setembro. À noite funcionários da Caixa tentavam conseguir a carta protocolar de Geddel.
A demissão deve ser consumada no Diário Oficial da União que circula hoje ou nos exemplares seguintes. É a primeira mudança importante de uma reforma que a presidente prometeu para o fim do anjo e agora é prevista para se realizar em fins de fevereiro, início de março. A mudança mais importante deve ocorrer na Casa Civil, cargo para o qual são cotados o atual ministro Aloizio Mercadante (Educação) e o secretário-executivo do ministério da Previdência, Carlos Gabas.
A presidente Dilma vai hoje a Minas Gerais, interrompendo seu período de recesso iniciado ontem, para acompanhar pessoalmente a situação das fortes chuvas que atingem a região. A previsão é que a presidente se dirija da Bahia, onde passa o período de descanso na Base Naval de Aratu, para Minas Gerais, para um sobrevoo da região.
Antes de embarcar para a Bahia, Dilma sancionou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2014, publicada em edição extraordinária do "Diário Oficial da União". Outro dos últimos atos formais da presidente antes do recesso foi a extensão até o fim de 2014 dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), atendendo a um pleito de seus integrantes. A decisão foi incluída em medida provisória editada com uma série de providências, entre as quais o aumento na remuneração de servidores de agências reguladoras (MP 632/13).
Durante o recesso da presidente e de demais autoridades do Palácio do Planalto, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, coordenará uma espécie de plantão do governo. Em seu retorno, Dilma vai analisar as mudanças no primeiro escalão. Espera concluir a reforma até o início de março. As sucessivas mudanças de prazo devem-se a ministros que são candidatos e querem aproveitar a exposição que o cargo permite até om último dia do prazo legal - 6 de abril. Candidato ao governo de São Paulo, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) tem uma intensa agenda prevista para o Carnaval. Em períodos de recesso anteriores, Dilma antecipou sua volta aos trabalhos para tratar de assuntos de governo emergenciais, como desastres naturais no Rio de Janeiro em 2012 e risco de apagão energético no início deste ano.
Cotado para substituir Gleisi na reforma ministerial, Mercadante também está em férias até a primeira semana de janeiro. Os encontros de coordenação do governo dos quais Mercadante tem participado são mantidos sob sigilo, a ponto de serem negados publicamente pela Presidência. (Colaborou Fábio Brandt)
Fonte: Valor Econômico
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