Com um milhão de reais para fazer licitação entres as agências de propaganda e os veículos de comunicação social, tendo em vista da propaganda oficial do governo de Pernambuco, o sr. Eduardo Campos pode se dar o luxo de aparecer em todos os jornais locais, no último domingo, com um discurso apaziguador, de concordância e harmonia, como recomenda o espírito de Natal.
Prestes a desembarcar da chefia do Estado, para alçar vôo em direção às eleições presidenciais, o mandatário pernambucano adota o tom adequado de quem é amigo de todos, pai da nação, irmão mais velho, preocupado com o bem comum dos pernambucanos, e não com a sorte de sua aventura política e eleitoral. E não aceita o rótulo de "traidor" ou "infiel". Poderia dizer, como o antigo secretário de estado norte-americano, John Foster Dulles, um político não tem amizades,tem interesses a perseguir. E sempre estará mudando de posição quando isto fôr conveniente aos seus interesses. Maquiavelismo abastardado, aprendido com o seu secretário da Casa Civil, ex-militante comunista.
Não é mera coincidência que esse tom melífluo e contemporizador venha depois do afastamento, que já não era sem tempo, do seu secretário da Defesa Social, o membro do Polícia Federal, a quem o governador entregou o comando de sua tropa de choque. O referido policial, do alto de sua arrogância e de seus procenceitos, expressou a tese de que as mulheres pernambucanas são estrupadas e violentadas pela polícia, porque sentem uma atração fatal pela farda, pelo coturno, pela continência. É a vitimologia do cientista da SDS. A culpa é das vítimas, não dos agressores fardados, pagos com o dinheiro público para proteger a população, não para atentar contra o pudor. A outra tese do grande cientista policial é a de que a homossexualidade é um problema de família, das famílias tradicionais. Não sei onde leu essas teses. Não foi, com certeza, na obra de Gilberto Freyre, que menciona expressamente a herança sado-masoquista deixada pela escravidão africana no Brasil.
Esse impoluto homem da lei já deveria ter sido afastado há mais tempo. Desde quando autorizou a força policial a reprimir as manifestações sociais contra o governo e a favor das políticas públicas, e não da construção de estadios inúteis e caros de futebol. Saiu tarde. Poderia nos ter poupado da invasão do campus universitário e da presença indesejável da polícia militar no recinto da UFPE.
Outro que poderia ser mandado embora é o secretário da Saude. O ilustre magistrado Roberto Wanderley acolheu, com a sua proficiência jurisdicional, o pedido de afastamento do cidadão, por conflito de interesses e medidas atentatórias contra o SUS e o interesse público, como foi o desmonte do centro de Transplante da Medula Óssea. O IMIP, instituição público-privada do secretário, pode ser um centro de excelência médica, mas não pode usurpar a prestação uniforme e universal do Sistema Público de Saude, recebendo equipamentos e verbas destinados à saude pública. Isso é um crime de lesa-sociedade. Sobretudo daqueles que mais precisam da prestação estatal desses serviços, por não poder paga por eles.
Finalmente, uma nota triste: surpreendi num dos comerciais da gestão do governo do Estado, o rostinho ingênuo de uma ex-aluna e ex-orientanda, usada para fazer propaganda das escolas pilotos da rede estadual de ensino. É lamentável, sob todos os pontos de vista, que os professores e outros funcionários públicos sejam "convencidos" e "convidados" a fazer propaganda a favor do gestor! Onde fica a impessoalidade, a legalidade e a publicização dos atos da administração pública?
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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