domingo, 1 de dezembro de 2013

Nanicos, socialistas e sem perspectivas de poder

Esquerda se lança no debate eleitoral, mas admite que o palácio do Planalto é um sonho mais do que distante

Étore Medeiros e André Shalders

Os principais partidos da diminuta esquerda brasileira admitem dificuldades para encontrar um nome forte para disputar as eleições de 2014, mas apostam em candidaturas próprias. Confiante de que a repercussão das manifestações de rua se dará nas umas, o PSTU já convidou PSol e PCB para uma conversa que viabilize a reedição da Frente de Esquerda de duas eleições atrás. Enquanto o Socialismo e Liberdade aposta na aliança, o quase centenário partido comunista pretende concorrer sozinho ao Planalto. Nas eleições de 2006, juntos, os três partidos consolidaram uma terceira via que alcançou 6,5 milhões de votos para a Presidência, tendo à frente a alagoana Heloísa Helena. Em 2010, concorrendo cada um por si ao Planalto, tiveram o apoio de apenas 1 milhão de eleitores.

"A votação de 2006 teve mais a ver com o espaço próprio que a Heloísa Helena tinha junto do eleitorado. Não vejo nenhum nome, em nenhum dos três partidos, para repetir a votação", analisa o presidente do PSTU, José Maria de Almeida. Ainda filiada ao PSol, a ex-petista de Alagoas está à espera da oficialização da Rede para trocar de legenda mais uma vez. Três vezes candidato à Presidência, Almeida acredita que a carência de nomes conhecidos nacionalmente possa ser compensada pelas recentes mudanças no contexto político. "Houve uma esquerdização da sociedade, que se materializou nas manifestações de junho, o que pode acabar por destinar à esquerda socialista brasileira uma votação maior."

"A questão é política, e não de matemática", justifica Ivan Pinheiro, presidente do PCB, ao rechaçar uma nova coligação das esquerdas. "Em 2006, a unidade foi feita de forma puramente eleitoral, sem um programa. A aliança terminou no dia seguinte das eleições. Isso não nos interessa repetir". O partido lançou a pré-candidatura à presidência do intelectual Mauro Iasi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

Sem "qualquer ilusão de ganhar as eleições", Pinheiro defende uma aliança permanente, que não precisaria necessariamente se repetir nos pleitos. "Achamos positivo que haja outros nomes de esquerda na corrida. São mais candidatos para pautar o debate, para denunciar essa democracia de fachada em que nós vivemos. O que nos interessa é criar uma unidade de ação nas lutas, no cotidiano, e não a cada quatro anos." Gigante entre os nanicos da esquerda, o PSol é o único dos três partidos com representação parlamentar no Congresso Nacional.

Para Ivan Valente, presidente e um dos três deputados federais da sigla, a falta de "diferenças substantivas" nas propostas de PT, PSDB e PSB/Rede, somada ao impulso das manifestações populares de junho, pode beneficiar as "candidaturas comprometidas com programas mais avançados, democráticos e mudancistas".

"Temos no Brasil uma situação de crescimento baixo, de estagnação da distribuição de renda e uma pauta muito conservadora, como é o caso das reivindicações do agronegócio, com o Código Florestal, contra as terras indígenas e assim por diante." No fim da tarde de hoje, o Congresso Nacional do PSol deverá bater o martelo de quem vai lançar à Presidência.

Proposta
Nome com grande aceitação entre diversas correntes do PSol, o deputado federal Chico Alencar (RJ) se retirou da disputa para tentar renovar o mandato parlamentar. O senador amapaense Randolfe Rodrigues, definido por Valente como "uma proposta que pode vingar", é o que conta com maior apoio dentro do partido. Correm por fora Luciana Genro, impedida pela Justiça de se candidatar no Rio Grande do Sul, em 2012, por ser filha do governador petista Tarso Genro e com apoio de parte menor da militância, Renato Roseno, advogado popular do Ceará. Apesar da disputa interna, que pode ter implicações na política de alianças, Valente acredita que as coligações poderão acontecer. As conversas com o PSTU são facilitadas pelo fato de o partido não fazer questão de ser cabeça de chapa.

Quanto ao PCB, o presidente do PSol é cauteloso, mas confia em um sinal positivo. "Em todas as bandeiras que temos levantado, contra o leilão de Libra, contra as privatizações, pela causa indígena, temos estado junto com o PCB. Acreditamos que o PCB venha a compor essa frente conosco, pela tradição e pela afinidade política". Sem diminuir a importância da candidatura à presidência, o presidente do partido ressalta, no entanto, que a principal meta para 2014 é eleger mais deputados federais.

Quem são e o que querem as esquerdas

PCB
Fundado em 1922, o Partido Comunista Brasileiro é a mais antiga legenda em atividade no país. Já no ano da fundação, foi colocado na ilegalidade pelo presidente Epitácio Pessoa. A legenda foi cassada por diversos governos e tem militantes desaparecidos até hoje, perseguidos pela ditadura de 1964. Voltou à Legalidade nos anos 1980, quando dissidências deram origem ao PPS e a correntes do PT.

O PCB defenderá em 2014 a suspensão dos pagamentos e auditoria da dívida pública, a reestatização de empresas públicas, a desmilitarização das polícias, o fim do superavit primário e da Lei de Responsabilidade Fiscal, e a distribuição dos royalties do petróleo de forma inversamente proporcional ao IDH de cada estado.

PSTU
O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado se identifica como "marxista revolucionário", próximo ao trotskismo e ao leninismo. Fundado em 1993, nasceu como uma tendência interna do Partido dos Trabalhadores, a Convergência Socialista.

Para 2014, o partido defende a suspensão dos pagamentos da dívida externa e interna, a reestatização de empresas públicas, o controle social do funcionamento das polícias, a retirada das tropas brasileiras do Haiti, a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia.

PSOL
O Partido Socialismo e Liberdade foi criado em 2005 por petistas descontentes com o governo Lula, que teria abandonado "o socialismo como horizonte estratégico" para defender "projetos prejudiciais ao povo brasileiro". Por votarem contra projetos do Planalto, a senadora Heloísa Helena e os então deputados federais Luciana Genro, Babá e João Fontes foram expulsos do PT e foram a base da cria.

Fonte: Correio Braziliense

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