Vem Rosa, Débora Bergamasco
BRASÍLIA - A estratégia da presidente Dilma Rousseff para recuperar a popularidade perdida e embicar a campanha do segundo mandato prevê um novo "casamento" com Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político. A partir deste mês, Dilma começará a aparecer em programas de TV, falando para diferentes públicos, como fez no início do governo. A ideia é que ela destaque a parceria com Lula desde 2003. De aparições para atrair apoio das camadas populares a entrevistas com foco econômico, dirigidas a eleitores de maior poder aquisitivo, tudo está sendo planejado no Palácio do Planalto para reabilitar Dilma até dezembro. A intenção da presidente é também explicar projetos que causam polêmica, como o Mais Médicos, e "vender" as concessões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, previstas para sair do papel a partir de setembro, após um ano de atraso. Em comum, nas entrevistas, a nova tentativa decolar sua imagem à de Lula.
Dilma já foi convidada para participar do "Programa do Ratinho", do SBT, vice-líder de audiência no horário nobre. Por lá passaram recentemente seus prováveis adversários Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (sem partido). No radar do Planalto também estão programas voltados para a dona de casa, como "Mais Você", de Ana Maria Braga (TV Globo).
Além de reconquistar o público feminino, a presidente também pretende aparecer no popular "Brasil Urgente", de José Luiz Datena (Band), e no "Esquenta!" (TV Globo), de Regina Casé.
A eficácia da tática que prevê o reforço da associação de Dilma com Lula e a ida a programas de grande audiência na TV, porém, chegaram a provocar dúvidas hã equipe de comunicação do governo. Não foram poucos os auxiliares que consideraram arriscada a estratégia da exposição ao vivo, nesse momento de crise, às vésperas do 7 de Setembro, quando deve haver nova onda de protestos, com o Grito dos Excluídos.
As últimas pesquisas qualitativas encomendadas pelo marqueteiro João Santana, no entanto, mostram, que, apesar das, divergências e dificuldades de gestão, ainda há uma "simbiose positiva" entre Dilma e Lula. As "quali", como são chamadas essas consultas, medem impressões e servem como termômetro do humor dos eleitores.
Santana, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o jornalista Franklin Martins - escalado por Lula para ajudar Dilma - venceram a batalha paira convencer a presidente a não se limitar a pronunciamentos, como o que ela fará no Dia da Independência.
Sinergia. Embora a aprovação de Lula também tenha caído, pesquisas que chegaram ao Planalto indicam não haver rejeição consolidada nem dele nem de Dilma. Em conversas reservadas, Santana diz que existe uma "sinergia rara" entre os dois no imaginário popular, porque um não anula o outro.
A comparação feita pelo mar-queteiro é a de um casamento, no qual os dois se complementam, sem perder a identidade. Na campanha de 2010, ainda desconhecida, Dilma era chamada de "a mulher do Lula" e até de "Vilma do chefe" em bairros da periferia.
Depois do desgaste colossal enfrentado pelo governo, com dissabores na política e problemas na economia, a ordem é mostrar Dilma menos intocável e mais "gente como a gente".
A preocupação da equípe do Planalto é costurar a rede de proteção que segura a presidente, para que ela não despenque do patamar de 30%, índice histórico do PT nas eleições. É por isso que o "resgate" de Lula entrou em cena.
Apesar dos escândalos de corrupção que abalaram seu governo, como o do mensalão, ele tem. queda de popularidade muito menor do que Dilma e, se a eleição de 2014 fosse hoje, venceria no primeiro turno, segundo as últimas pesquisas, num cenário contra Marina, Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), possíveis rivais do PT.
"Reação". "A oposição quis criar uma cisão entre Dilma e Lula, mas não conseguiu. Ele ainda é um cabo eleitoral fortíssimo", argumentou o presidente do PT paulista, deputa! do Edinho Silva. "O desgaste sofrido por Dilma e por vários governadores, como os tucanos Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Antonio Anastasia, em Minas, não é estrutural, mas, sim, do Estado brasileiro. Nessa perspectiva, o governo tem capacidade de reação."
Para o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), a operação deflagrada pelo Planalto com o objetivo de recuperar a popularidade de Dilma denota "desprezo pela inteligência" do eleitor.
Poste. "Lula elegeu um poste uma vez, mas, como o poste não aprendeu a governar, essa nova estratégia de marketing não vai funcionar", alfinetou Aloysio, "O que vai ser julgado é o governo dela, e não o dele."
A receita para Dilma sair da crise, na avaliação do presidente do PMDB, senador Valdir Raüpp (RO), é pôr o pé na estrada. "Dilma tem feito muito, mas andado pouco, ao contrário de Lula. A simples associação da imagem dos dois não é suficiente", disse Raupp. "Ele era um caixeiro viajante, mas ela não se movimenta tanto. Nessa hora, a presidente precisa viajar, inaugurar obras, construir agenda positiva."
A dois dias do fim das férias parlamentares, Raupp recomendou o fim das brigas entre o PMDB e o PT, os dois maiores partidos da coligação. "A base aliada precisa ter juízo. Não pode ser uma base que fica minando o governo admitiu o senador.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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