domingo, 4 de agosto de 2013

Presidenciáveis fazem corrida eleitoral antecipada

Prováveis candidatos, como Aécio e Campos, disputam apoio do PDT e do PP, que são da base de Dilma

Maria Lima, Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Dois partidos da base da presidente Dilma Rousseff, o PP e o PDT, tornaram-se o sonho de consumo de dois dos principais adversários da petista nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE). A um ano do início da campanha presidencial são muitas as incertezas no campo governista sobre o tamanho da coligação que disputará a reeleição. Mas, pelo olhar de hoje, Dilma não repetirá a parceria de dez partidos construída em 2010. As negociações de Aécio e Campos têm como objetivo suprir a necessidade de maior tempo de televisão, mas também permitir a montagem de palanques presidenciais em estados onde seus partidos enfrentam dificuldade. As negociações do PSDB e do PSB com o PP e o PDT são as mais adiantadas, mas outras articulações estão em curso.

A Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, ainda está absolutamente focada na validação das assinaturas necessárias para a Justiça Eleitoral formalizar a criação do partido, e não começou efetivamente negociações nos estados.

Embora PSDB e PSB estejam travando conversas tanto com PP quanto com PDT, há uma diferença de prioridade. Neste momento, enquanto o foco dos tucanos está nas conversas com o PP, o dos socialistas está sobre o PDT. Nos últimos dois meses, o PSDB incorporou o PP à base de todos seus oito governos estaduais — o último que faltava, no Pará, foi resolvido há cerca de um mês — e a avaliação entre os tucanos é que hoje ao menos a neutralidade da legenda na disputa nacional está a caminho de ser assegurada.

O sonho de Aécio Neves, no entanto, é que ocorra uma formalização da aliança, e para isso oferece apoio em estados onde o PP tem nomes fortes. Como o Rio Grande do Sul, onde lançará a senadora Ana Amélia Lemos, e no Amazonas, onde a pré-candidata pepista é a deputada Rebecca Garcia. Segundo o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, a legenda está dividida:

— Na eleição passada, nós lutamos para que houvesse uma aliança formal com o PT, e ficamos neutros. Eu continuo defendendo a aliança formal, mas está tudo indefinido porque temos alianças importantes também com o PSDB. No Rio Grande do Sul, a Ana Amélia é candidata do PP e quem for contra o PT estará no seu palanque, que pode ser (palanque) do Aécio, do Eduardo Campos, ou duplo. No Paraná, somos Beto Richa (governador do PSDB). Em Goiás, temos o vice do Marconi Perillo (PSDB), e nesses dois o palanque é do Aécio.

No PSB, o empenho no momento é fechar as negociações com o PDT nos estados. Os trabalhistas receberiam apoio a seus candidatos aos governos do Rio, com o deputado Miro Teixeira ou o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos; do Mato Grosso, com o senador Pedro Taques; do Rio Grande do Sul, possivelmente com o deputado Vieira da Cunha; e de Alagoas, com Ronaldo Lessa — estados onde os socialistas têm dificuldades.

Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, o partido tem conversado com todos os grupos, mas não há qualquer definição. Ele diz, ainda, que a tendência hoje é de apoio à presidente Dilma, mas não deixa de se referir aos protestos de rua:

— Essa é uma fase de muita conversa e pouca decisão, até porque essas manifestações mexeram muito no cenário. A diferença entre as conversas com os dois partidos (PSB e PSDB) é que o PSB é mais do nosso campo, e isso fortalece a possibilidade de aliança. Mas cada estado tem uma fotografia e há o peso de estarmos no governo através do Ministério do Trabalho — pontua Lupi.

Além da negociação com o PDT, o PSB ainda sonha dividir com Aécio o palanque de candidatos tucanos em três dos seis estados mais populosos do país: São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em todos os três, os socialistas integram os governos tucanos e já se preparam para apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR). Em Minas, há ainda o possível, mas difícil, lançamento de um candidato único (PSB e PSDB), que poderia ser o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB).

A articulação dos palanques duplos, no entanto, enfrenta um problema. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que cada candidato ao governo só pode veicular na propaganda de rádio e televisão — principal ativo das campanhas — imagens e falas de um único candidato à Presidência. Ou seja, se for mantida a posição de 2010, Alckmin e Richa só poderão exibir na televisão imagens com Aécio — que é do mesmo partido deles —, nunca as com Eduardo Campos.

Independente da possibilidade ou não de formalizarem palanques duplos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm mantido conversas frequentes e se falaram inclusive na última semana. Ambos almejam o apoio do outro para um hipotético segundo turno da eleição. Aécio Neves, no entanto, minimiza o peso das conversas de hoje no resultado final das alianças, que serão formalizadas somente em junho de 2014.

Na próxima terça-feira, Aécio, que é também presidente nacional do PSDB, reunirá em Brasília os presidentes de todos os diretórios estaduais de seu partido para tratar da montagem das chapas proporcionais e analisar a situação em cada estado:

— O PSDB tem uma prioridade hoje que é conversar com a sociedade. Vamos fazer isso nos nossos novos programas e estimular os diretórios estaduais a ampliar os leques de conversa. Só vamos tratar objetivamente das coligações no próximo ano. Muitas dessas alianças vão depender do quadro que existir lá. Agora é hora de estimular os estados a se organizarem. No ano que vem é a hora das conversas formais de alianças e quanto melhor posicionado estiver o PSDB, maior facilidade vamos ter para essas alianças.

No PSB, os próximos meses serão decisivos para a construção da unidade em torno de Eduardo Campos. Os governadores da legenda evitaram até agora se posicionar abertamente a favor de sua candidatura, alguns deles por medo de retaliação por parte do governo federal. O governador Cid Gomes (CE) é mais ostensivo contra Campos e vem defendendo continuamente, e de público, o apoio à reeleição de Dilma. A expectativa, no entanto, é que todos se unam quando Campos anunciar o rompimento com o governo e se lançar à Presidência, o que deve ocorrer no primeiro trimestre de 2014.

O primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, avalia que ainda é cedo para sacramentar qualquer decisão, mas reconhece as conversas com o PDT e com o PSDB tendem a prosperar nos estados:

— Ainda é muito cedo, ninguém vai tomar essas decisões agora. Essa é a realidade. Há um esforço para que possa se realizar uma aliança com o PDT, existem vários lugares onde essa aliança com o PSDB já existe e algumas deverão se repetir. Mas é o plano local que será definidor delas, no plano nacional são dois projetos distintos. Até porque há muitos anos temos boas relações, mas nossas posições são diferentes nacionalmente.

Aliança com PMDB enfrenta dificuldades em 15 estados

Maior partido da base de apoio ao governo ainda não sabe se repete dobradinha com Dilma em 2014

Apesar de o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ter afirmado na última terça-feira ao GLOBO que o PMDB traz “mais problema do que solução” para o governo Dilma, a preocupação número um do Palácio do Planalto e da direção nacional do PT é com a manutenção da aliança formal com o partido do vice-presidente Michel Temer. Uma análise estado por estado revela que a tarefa não é simples. Hoje, os dois partidos enfrentam dificuldades para formalizar a aliança em pelo menos 15 estados.

Antes do início dos protestos, e a consequente derrocada dos índices de popularidade da presidente, o vice Michel Temer chegou a reunir em Brasília dirigentes de alguns diretórios estaduais para sacramentar o apoio à reeleição. Mas até interlocutores do vice reconhecem que essas conversas já não têm mais valor hoje. Com isso, cresce a ala do partido que considera a hipótese de nem fechar coligação formal com o PT. Até o início deste ano, o único temor era que em alguns estados grupos peemedebistas não fizessem campanha para a chapa nacional.

Os estados com mais delegados com votos na convenção nacional da legenda, e que por isso vão decidir o jogo, são o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Paraná. Nos quatro, há problemas com os petistas. No Rio, o PMDB ainda quer que o PT ingresse na chapa do vice-governador Luiz Fernando Pezão e culpa o senador Lindbergh Farias por parte da radicalização dos protestos recentes.

Em Minas Gerais, a bancada estadual do PMDB está bem próxima de formalizar uma aliança em torno da candidatura do ministro Fernando Pimentel (PT) ao governo, mas na bancada de deputados federais há resistências. No Ceará, o senador peemedebista Eunício Oliveira vem dizendo a interlocutores que só apoiará a reeleição de Dilma, caso o PT ou o PSB o apoiem ao governo. E no Paraná, a única certeza é que o PMDB não ficará com a ministra Gleisi Hoffmann (PT), e parte do partido pode apoiar a candidatura do governador tucano Beto Richa.

A avaliação entre os aliados de Michel Temer, no entanto, é que caso a presidente recupere minimamente a popularidade, chegando no primeiro trimestre do ano que vem com avaliação positiva entre 40% e 50%, a tendência é que os diretórios se acomodem e ao menos formalizem a aliança nacional.

— As manifestações jogaram a lógica das alianças no chão e o processo do debate eleitoral deve ser congelado para fazer o governo acontecer. No Rio, por exemplo, antes, a gente administrava a saída do Lindbergh da disputa. Agora a gente está vendo como fazer Cabral sobreviver — diz o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, um dos poucos a falar publicamente sobre o assunto, e que tem, por enquanto, apenas uma certeza diante dos ataques de petistas: — Se o PT rifar o Michel , vamos para os braços do Aécio, ele vira vice e ganha a eleição.

Para o secretário-geral e candidato à presidência nacional do PT, Paulo Teixeira (SP), o partido deve trabalhar com a perspectiva de manter integralmente a aliança que hoje apoia a presidente Dilma, mantendo não só o PMDB, como o PSB de Eduardo Campos.

— Temos que discutir com todos os partidos da base, o objetivo é chegar à eleição com a base coesa. Na minha opinião, o governo vai chegar bem melhor nas eleições.

Fonte: O Globo

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