A grande novidade na negociação pode surgir no Rio de Janeiro, onde o governador, Sérgio Cabral, pleiteia com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a remoção da candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ)
Nem as dificuldades da economia nem a necessidade de melhorar a qualidade dos serviços prestados à população, o foco da reforma ministerial iniciada ontem pela presidente Dilma Rousseff é o fortalecimento eleitoral do PT em São Paulo, a segunda joia da coroa, e a necessidade de abocanhar a maior fatia do tempo de televisão para sua própria candidatura à reeleição. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), assumirá a Casa Civil no lugar de Gleisi Hoffmann (PT), que deixará o cargo para se candidatar ao governo do Paraná. O seu lugar na Educação será ocupado pelo secretário executivo da pasta, José Henrique Paim. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), deixa o cargo e entra o petista Arthur Chioro (PT), secretário de Saúde de São Bernardo dos Campos (SP). Outra mudança é a saída da ministra da Comunicação, Helena Chagas, que será substituída pelo jornalista Thomas Trauman, ex-assessor de Antônio Palocci na Casa Civil. A mudança fortalece sobretudo o PT paulista.
Mercadante é o novo “homem forte” do governo, posição que o ex-senador conquistou por ser o principal conselheiro da presidente Dilma Rousseff. Ele conhece bem o Congresso, é economista da mesma escola de Dilma, de quem foi professor na Unicamp, e também um especialista na maior esfinge do quadro político: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal artífice dessas mudanças. A reforma foi decidida numa reunião com Lula, no Palácio do Alvorada, da qual participaram o ex-ministro da Comunicação Franklin Martins, que novamente dará as cartas nas relações com a mídia, e Giles Azevedo, chefe de gabinete e homem de confiança da presidente da República.
O maior problema da reforma continua sendo a insatisfação do PMDB, o principal aliado do governo. A relação entre a presidente Dilma e os líderes da legenda no Congresso é péssima, mas o pragmatismo ainda fala mais alto: o PMDB quer aumentar de cinco para seis pastas o seu espaço no governo e deve se reunir na próxima terça-feira para dar um ultimato a Dilma. As propostas em discussão no governo são a entrega da Secretaria de Portos ao deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS) e, no Ministério da Agricultura, a substituição de Antonio Andrade (PMDB-MG), que concorrerá à Câmara dos Deputados, pelo seu colega Leonardo Quintão (PMDB-MG). O PMDB quer manter o Ministério do Turismo e indicar o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) para o lugar de Gastão Vieira (PMDB-MA), que deixará o cargo para ser candidato a deputado federal.
A grande novidade na negociação pode surgir no Rio de Janeiro, onde o governador, Sérgio Cabral, pleiteia com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a remoção da candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ). O marqueteiro João Santana exigiu cinco minutos de tempo de tevê para fazer a campanha contra o Luiz Fernando Pezão (PMDB), vice de Cabral, que assumirá o governo e concorrerá à reeleição. Sem tempo de televisão, o petista será defenestrado por Lula e o PT apoiará Pezão. Outro rolo ocorre no Maranhão, por causa da candidatura de Flávio Dino (PCdoB), favorito na disputa, mas Dilma está com o ex-presidente José Sarney e sua filha Roseana, que governa o estado — e não abre. No Ceará, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), que será candidato a governador, também está descontente com a resistência do PT em apoiá-lo. Lá o aliado principal de Dilma é o governador Cid Gomes (Pros), que esteve com Mercadante na quinta-feira.
Detalhe: o bloco PP e Pros reúne 62 deputados federais. O PP continuará com o Ministério das Cidades e o Pros ganhará a Integração Nacional, que deve ficar com o ex-ministro Ciro Gomes. Seu nome, porém, não é consenso na bancada federal da nova legenda.
Não chores por nós, Argentina
A Argentina é somente um entre muitos países emergentes, inclusive o Brasil, que tem visto forte queda no crescimento econômico, como a Turquia e Índia. Todos expandiram suas economias com base no acelerado crescimento chinês e na liquidez monetária nos países desenvolvidos. Cada um aproveitou como pode a maré ; houve generalizada expansão do crédito e do consumo. Agora, cada país precisa buscar uma alternativa para continuar crescendo, ou seja, fazer um ajuste. A Argentina é um aviso de que a situação é perigosa e pode resultar num desastre se nada for feito.
O Brasil está diante desse dilema. As ações de empresas que atuam nos países emergentes desabaram, estão sendo punidas da mesma forma como foram premiadas quando eles estavam numa posição ascendente. Os investidores estão fugindo desses mercados, inclusive o nosso. Vão esperar o ajuste. Ocorre que o governo não pretende fazê-lo antes da eleição. Os tempos na política e na economia são relativos e reativos entre si. Previsões catastróficas da oposição antes das eleições podem ser um tiro no pé, mas os riscos para o governo existem. Quem quiser que faça sua aposta.
Fonte: Correio Braziliense
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