Em 2007, quando o Brasil foi escolhido o país-sede da Copa do Mundo de 2014, o então presidente Lula garantiu que não haveria derrame de recursos públicos na construção de estádios para o torneio. Bastaram poucos anos para que aquela promessa vazia se comprovasse falsa, o que justifica a desconfiança generalizada em relação à declaração de Dilma Rousseff de que o país realizará a “Copa das Copas”. Para além da propaganda oficial, o que se constata a menos de cinco meses do início da competição são atrasos nas obras e desperdício do dinheiro do contribuinte.
A última estimativa oficial em relação ao custo das arenas, obtida pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, aponta uma soma estratosférica de R$ 8,9 bilhões, valor que supera em mais de três vezes o orçamento apresentado pelo Brasil à Fifa, de R$ 2,6 bilhões. De acordo como relatório inicial entregue pelas autoridades brasileiras, o sistema de transporte atenderia “de forma confortável” às demandas da Copa, a rede hoteleira seria “suficiente” e a qualidade dos hospitais era “referência internacional”.
Pois a vida real desmentiu a carta de intenções não cumpridas. Em recente entrevista ao jornal suíço “24 Horas”, o mandatário da Fifa, Joseph Blatter, afirmou que o Brasil “é o país com mais atrasos e o que teve mais tempo para se preparar” para organizar uma Copa do Mundo. Até mesmo o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, fez severas críticas à preparação do país: “Foi um descaso total. Vejo que os aeroportos vão ser licitados a partir de março, três meses antes.
É uma brincadeira”, disse à Rádio CBN. A incompetência dos governos de Lula e Dilma e a farra como dinheiro público ficam evidenciadas quando se estabelece uma comparação entre o que aqui foi gasto em estádios e o montante desembolsado nas duas últimas Copas. Segundo dados do Sindicato Nacional de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), o país gastou R$ 8 bilhões nas arenas, bem mais que a soma dos R$ 3,6 bilhões da Alemanha, em 2006, com os R$ 3,2 bilhões da África do Sul, em 2010.
Ao todo, as despesas governamentais para o evento devem ultrapassar R$ 33 bilhões. O desperdício não para por aí. Um levantamento feito pelo Instituto Braudel e a ONG PlayTheGame revela que o preço médio de um assento nos estádios da Copa de 2014 é de R$ 13,5 mil, superando os valores registrados na África do Sul (R$ 12,1 mil) e na Alemanha (R$ 7,9 mil).
É evidente que as manifestações contra a realização da Copa no Brasil não impedirão que o torneio aconteça. Os protestos talvez tivessem sido mais eficazes se organizados em2007, mas o clima de euforia patriótica, insuflado pelo populismo triunfalista de Lula, inibiu qualquer iniciativa de contestação. De todo modo, mobilizações como a que reuniu mais de 1,5 mil pessoas em São Paulo são importantes para a responsabilização de quem patrocinou um evento que certamente trará uma ressaca cívica ao país.
Não se pode admitir a violência praticada por grupos minoritários radicais que, quase em uma relação de causa e efeito, levam a excessos na repressão policial e só prejudicam novas manifestações. Mas desqualificar todo o movimento, legítimo e indispensável à democracia, é inconcebível. Uma sociedade que não se mobiliza é uma sociedade morta, e a falácia da “Copa das Copas” anunciada por Dilma é motivo mais do que suficiente para os brasileiros não saírem das ruas.
Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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