segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Eliane Cantanhêde: Rastilho de pólvora

Os "black blocs" estão por toda parte e, se não há clima para Dilma em inauguração de estádio, também não há para reunião de presidentes do enfermo Mercosul.

A cúpula do bloco foi marcada para 13 de dezembro de 2013 e desmarcada, para 17 de janeiro e desmarcada, para 31 de janeiro e, mais uma vez, desmarcada. Já não será em fevereiro e ninguém crê na nova previsão, de meados de março.

Ora é Cristina Kirchner que não está se sentindo bem, ora é Dilma que não tem tempo, correndo entre Davos, Lisboa e Havana. Mas são só desculpas esfarrapadas.

O problema real é que a reunião, pelo sistema de rodízio, tem de ser em Caracas. E quem é louco para jogar pelo menos cinco presidentes naquele caldeirão fervente?

A batalha de rua entre chavistas e antichavistas --ou seja, em torno de um fantasma-- produziu três mortes num único dia da semana passada. Há crise de desabastecimento, inflação galopante, desemprego preocupante e violência descontrolada. Maduro não conseguiu nem encarnar nem representar Chávez. Está completamente perdido.

Mas quem vai atirar a primeira pedra --ou rojão? No Brasil, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, os 30 feridos nos protestos do MST, as dezenas de ônibus queimados em São Paulo e as cabeças rolando no Maranhão. Sem falar no apagão.

Na Argentina, Cristina Kirchner controla a imprensa, mas não as greves, a insatisfação e, menos ainda, a economia. No Paraguai, Horacio Cartes convive com problemas entranhados na história e na alma do país, como contrabando e corrupção. No Uruguai, Pepe Mujica está distraído com a maconha livre.

E há uma questão prática: a Argentina, teimosamente, não fecha sua lista de produtos para a negociação do bloco com a União Europeia, nas próximas semanas.

Logo, não há clima, não há pauta e não há vontade para reunir a turma. O Mercosul virou um fardo.

Fonte: Folha Online

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