Cresce a expectativa de que o ano eleitoral seja marcado por protestos. Especialistas acham que a oposição pode lucrar
As manifestações que acontecem desde junho do ano passado no Brasil darão à eleição presidencial deste ano um ambiente completamente diferente dos anteriores. A campanha ocorrerá em meio à efervescência de eleitores que foram (e vão) às ruas e aguardam mudanças de postura do governo e da oposição. Alguns acreditam que os atos do ano passado foram maiores do que o movimento que culminou no impeachment de Fernando Collor, que teve Brasília como foco, enquanto, em 2013, houve manifestações em todas as regiões do País.
Este ano, novos protestos já aconteceram e devem continuar, alguns com pautas antigas - como os contrários à realização do Copa do Mundo e ao aumento das tarifas de ônibus - e outros com novas - a exemplo dos favoráveis aos "rolezinhos".
Alvo das manifestações, a maior parte da classe política é cautelosa e, publicamente, evita cravar posicionamentos sobre os protestos. Mas sabem que precisarão incluir nos seus discursos a pauta das ruas. A presidente Dilma Rousseff (PT) já saiu incontáveis vezes em defesa da realização da Copa, citando legados sociais e de obras - e o governador-presidenciável, Eduardo Campos (PSB), tenta atrair para si a bandeira da "nova política".
Na semana passada, em entrevista ao JC, o deputado federal Inocêncio Oliveira revelou que ouviu de Eduardo Campos que ele está certo de que os protestos contra a Copa desgastarão o governo Dilma e, como isso, o socialista poderá vencer em São Paulo, maior colégio eleitoral do País.
Para a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (em São Paulo) Maria do Socorro Braga, as cobranças feitas nas ruas atingem mais o governo Dilma, que responde por mais recursos, e reduzirão a capacidade do PT de resolver a eleição no primeiro turno, a depender do número de pessoas nas manifestações deste ano.
Apesar da presidente ter recuperado parte de sua popularidade em dezembro - quando as manifestações esfriaram e novas política públicas, como o programa Mais Médicos, ganharam força -, a professora acredita que a oposição pode atrair eleitores que, hoje, votariam em branco ou nulo, isto é, a parcela que não deseja a continuidade da gestão petista, mas que também não possui, até agora, afinidade por outra alternativa.
"O voto mais difícil de conquistar é o desse setor, porque é o eleitor mais crítico, que compara as propostas. Tanto a oposição do PSDB quanto a do PSB só vai levar ganho se tiver um programa de governo satisfatório. Até agora elas não têm", opina a professora do departamento de Ciência Política, Maria do Socorro Braga.
Especialistas acreditam que, as manifestações deste ano podem atrair menos pessoas por causa dos atos de violência registrados. Na semana passada, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão enquanto cobria um protesto contra o aumento da passagem de ônibus no Rio de Janeiro, comoveu o País.
Em novembro, sondagem feita pelo Instituto de Pesquisa Mauricio de Nassau, em parceria com o JC, já apontava que 82,7% dos recifenses não pretendiam participar de manifestações este ano. E 92,2% reprovam os atos de violência.
No entendimento do professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Costa Lima a oposição poderá ganhar força se os protestos continuarem a esquentar e ficar mais radicais.
"As críticas ao governo federal e aos estaduais ligados ao PT podem ficar mais pesadas. Por exemplo, a atuação da polícia - que tem prática no combate ao crime, na linha de frente mais dura - vem sendo criticada, apontada como truculenta, e pode ser usada contra o governo", avalia Marcos Costa.
Fonte: Jornal do Commercio (Pe)
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