Nesta segunda quinzena de março, as sucessivas revelações de graves irregularidades na gestão da Petrobras (ligadas a contratos suspeitos e a enorme desperdício de recursos), seguidas do anúncio de rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência S&P (Standard & Poor’s), tiveram e continuarão tendo tal repercussão que, finalmente, estão convertendo em temas de grande interesse do conjunto da população os vultosos prejuízos do aparelhamento das estatais, bem como a precariedade dos objetivos populistas e dos resultados da política econômica federal.
Repercussão que, combinada com efeitos crescentes da pressão inflacionária e da redução de credibilidade das “realizações” e promessas da presidente, no intenso uso da mídia que tem feito, provavelmente começará a refletir-se numa queda dos índices de aprovação do governo e da candidata à reeleição. O que, ocorrendo, reforçará, agora, a percepção das diversas forças políticas, da mídia e dos agentes econômicos de um encaminhamento da disputa presidencial para o 2º turno. Com implicações dentre as quais cabe destacar o acirramento de conflitos entre o PT e o PMDB na montagem de palanques regionais e mais tropeços no relacionamento do Executivo com o Congresso, sobretudo com a Câmara dos Deputados.
Quanto ao campo oposicionista, a proposta de CPI (só da Câmara ou mista com iniciativa do Senado, para apurar os malfeitos das compras da refinaria de Pasadena e de várias outras ações da Petrobras), que é articulada por Aécio Neves com apoio de Eduardo Campos, decorre certamente do cálculo de que, viável ou não, além de fortalecer as demais investigações, ela projeta para a sociedade uma imagem ética e combativa de oposição. Cujos presidenciáveis não têm conseguido capitalizar o desejo de mudança de governo, para outro melhor, manifestado nas últimas pesquisas, nas quais nem um nem outro tem sido avaliado como alternativa a Dilma Rousseff.
A refinaria de Pasadena e a de Lula e Chávez – As desastradas operações relacionadas à refinaria de Pasadena, nos EUA, ademais do enorme dano econômico e financeiro sofrido pela Petrobras, estão tornando de amplo conhecimento público diversos e graves problemas da gestão da empresa, decorrentes de abusivo aparelhamento político e partidário, praticado ao longo dos dois mandatos do ex-presidente Lula, e de decisões a ela impostas no atual governo. Como a do represamento do preço dos combustíveis, com a importação de derivados de petróleo a um custo muito maior (em torno de R$ 1 bilhão a cada trimestre, equivalente ao que teve a compra da referida refinaria).
Por isso, a megaestatal, que era motivo de orgulho dos brasileiros, passa a ser associada a negócios suspeitos e a empreendimentos “furados” como o da “parceria” de Lula com Hugo Chávez, em 2005, para a construção de uma refinaria em Pernambuco (com gasto conjunto estimado em US$ 2 bilhões e a ser inaugurada em 2009, mas hoje custando entre US$ 18 bilhões e U$ 20 bilhões a Petrobras, sem nenhum tostão da Venezuela, e ainda em obras). Num contexto político em que ela se converte do forte trunfo eleitoral que representou na disputa pela presidência da República em 2010, em favor da “gestora” Dilma Rousseff, em um agudo fator de desgaste da presidente/candidata e também do lulismo, e de maior fragilização do Executivo diante do Congresso – seja por meio das investigações já em andamento, seja da CPI proposta pela oposição.
A queda da nota de crédito do país – Somando-se aos problemas da área elétrica e aos da Petrobras, o anúncio desse rebaixamento pela agência S&P (Standard & Poor’s) dominou as manchetes da mídia, anteontem à noite na TV e em seguida nos grandes jornais. Surpreendido, o governo (através do ministério da Fazenda e da própria presidente) reagiu com forte irritação e tentando desqualificar a agência de risco.
Enquanto entre os analistas entrevistados prevaleceu amplamente a avaliação de que o referido rebaixamento era esperado – agora ou em mais alguns meses- por refletir a persistência de sérias distorções na política econômica do Palácio do Planalto. Abertura da coluna de Miriam Leitão, ontem no Globo, intitulada “Peso do rebaixamento”: “Não foi surpresa a decisão da Standard &Poor’s de rebaixar o Brasil O governo ignorou todos os alertas e insistiu em manobras para manipular as contas públicas, em vez de corrigi-las.
O efeito concreto será tornar mais caro o crédito para o país e mais ariscos os investidores”. A reportagem do Valor sobre o tema incluiu parágrafo com fundamentação do rebaixamento pela agência: “A S&P justificou a decisão com base na deterioração das contas fiscais, na baixa credibilidade da política econômica e na dificuldade que o governo terá para melhorar os números em pleno ano eleitoral”. A matéria da Folha destacou que o rebaixamento da nota de crédito “também reduz a classificação da Petrobras e Eletrobras. E hoje a imprensa dá conta do rebaixamento, também, das notas de crédito do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do BNDES.
Jarbas de Holanda é jornalista
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