Desde o dia de 12 de fevereiro, a Venezuela tem sido palco de cenas de horror que colocam em xeque a democracia e o respeito aos direitos humanos no país. As ruas das principais cidades se transformaram em praças de guerra, onde se confrontam estudantes críticos ao governo de Nicolás Maduro, forças de segurança e esquadrões paramilitares que defendem o regime.
As 15 mortes desde o início dos confrontos, entre elas a de Génesis Carmona, de 23 anos, Miss Turismo do estado de Carabobo que foi baleada na cabeça por um grupo de motoqueiros armados, se somam aos índices alarmantes de criminalidade. Em 2013, quase 25 mil pessoas foram assassinadas, cinco vezes mais que em 1998, quando o ex-presidente Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez. É a terceira maior taxa de homicídios do mundo, inferior apenas às de Honduras e El Salvador.
O autoritarismo de Maduro ficou claro quando um dos líderes da oposição, Leopoldo López, foi preso como se tivesse responsabilidade pela indignação que tomou conta de grande parcela da população. O oposicionista continuará detido por mais 45 dias, enquanto aguarda o julgamento, e pode ser condenado a até dez anos de cadeia. Diante da crise política no país vizinho, o Brasil e outras nações da América do Sul parecem ter demonstrado certo constrangimento em se manifestar, pois só o fizeram encobertos por um comunicado divulgado pelo Mercosul, hoje curiosamente presidido pela Venezuela.
Não é mandando à prisão seus adversários políticos que o governo venezuelano resolverá a gravíssima crise que leva a multidão às ruas. A inflação alcançou 56% no ano passado, a maior do continente. Para agravar o cenário, o governo optou pelo congelamento de preços, uma medida que a história econômica de vários países já evidenciou ser um desastre – e o fez de forma violenta, com a tomada de empresas comerciais. A situação lembra a que o Brasil viveu em meados dos anos 1980, quando o congelamento foi adotado para que se mantivesse a popularidade do governo, mas acabou levando à falta de mercadorias nos supermercados e à escalada da inflação, culminando no fracasso total do Plano Cruzado.
Além de atentar contra a liberdade institucional na Venezuela, com a perseguição de líderes opositores, o regime tenta calar a imprensa independente, duramente vilipendiada desde o governo Chávez. Correspondentes da rede americana CNN chegaram a ter suas credenciais cassadas e só a pressão internacional fez com que os vistos de trabalho fossem devolvidos. Ao menos 71 repórteres foram agredidos no país este ano, sendo 55 desde o início das manifestações. Isso sem contar as emissoras de TV críticas ao governo que, sufocadas financeiramente, tiveram de encerrar suas atividades, e as redes sociais e aplicativos de troca de mensagens frequentemente bloqueados.
No ano passado, Maduro disse que Chávez havia aparecido diante dele em forma de “passarinho” e o teria “abençoado”. Delírios à parte, já passou da hora de o presidente venezuelano dispensar qualquer ajuda sobrenatural e assumir suas funções com a responsabilidade que tem lhe faltado diante de uma crise tão séria. É sua obrigação buscar uma solução negociada com a sociedade civil e a oposição para pôr fim à violência que mata inocentes e ameaça a esperança de um futuro melhor. O que a Venezuela, a América do Sul e o mundo precisam é de paz.
Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Fonte: Brasil Econômico
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