Todos os dias, quase sem exceção, noticia-se a existência de uma crise política. Agora, arma-se um bloco “oposicionista” dentro da base governista que terá 55% dos votos da Câmara dos Deputados para pressionar a presidente Dilma Rousseff. As razões são as de sempre: insatisfação com a distribuição dos cargos e demora na liberação de verbas.
De um lado, o governo nega os ritos e deveres do presidencialismo de coalizão. De outro, a maioria do Congresso nega o seu dever de apoiar um governo do qual nominalmente faz parte.
Isso porque o Brasil é um país “para inglês ver”, onde as coisas funcionam “mais ou menos” – como diria o Poderoso Castiga, personagem do humorístico “Pânico na TV”, em que “menos” é muito mais relevante do que “mais”.
As raízes da crise são antigas e se baseiam nos seguintes componentes. Desde 2011, o governo vem tropeçando na coordenação política. Seja por preconceito com relação aos aliados, seja por incompetência; seja por erros de avaliação, seja por ignorância.
O preconceito está claro no fato de que setores do PT não aceitam a convivência com o PMDB. A aliança é pontuada de desconfianças, traições, corpo mole. A divisão de poder é sabotada pelo PT, que não aceita nem cumpre as diretrizes quando vindas dos aliados. Não é sempre assim, mas tal situação ocorre muitas vezes.
Acertos feitos com o Planalto não são executados e são sabotados nos escaninhos do time econômico, que não libera as verbas a tempo. Compromissos acertados demandam pressões e chantagens para ser executados. As emendas de parlamentares aliados também não são liberadas com facilidade e seguem o mesmo rito de pressões.
Existe um grave erro de avaliação por parte do governo. Cabe a ele decidir se quer ou não ter aliados e se tem condições de governar sem eles, e o cálculo vai apontar que é inevitável ter apoios no Congresso para governar. É assim que funciona o presidencialismo de coalizão.
Para piorar, o governo – em sua ação política – não é consistente nem suficientemente competente. Aliados devem ser tratados como tal e cobrados da mesma maneira. Quem tem presença no Planalto deve dar apoio ou pular fora do barco. A cobrança deve ser feita de forma imediata. No entanto, as agendas não devem ser impeditivas em relação ao Congresso.
O governo e a sua base política deveriam estabelecer agendas diárias, semanais, mensais e semestrais de temas e decisões, e executá-las de forma clara, transparente e eficiente. Quem apoia deve ser reconhecido, e quem atua contra deve ser eliminado da base. O que não funciona é prometer e não cumprir; não ter uma agenda clara; mover-se com base em voluntarismo e achar que pode tudo. No Brasil de hoje, ninguém pode tudo.
Os atritos com a base são todos contornáveis, desde que sejam arbitrados. Governo e base deveriam ter condição de poder arbitrar sobre quem perde e quem ganha em uma decisão e de poder lançar mão de compensações. Na ausência disso, a base, que nunca foi unida, caminha para a desintegração, ainda que, nominalmente, continue apoiando o Executivo.
Na prática, a situação fragiliza o governo, enfraquece o ânimo dos aliados para a campanha e aumenta o risco de problemas na reta final da campanha. Uma boa campanha eleitoral deve começar, acima de tudo, com uma boa pré-campanha. Assim mesmo, Dilma é favorita, até mesmo pelo fato de o histórico das campanhas indicar que vence quem chega liderando as pesquisas presidenciais no início da propaganda eleitoral. É assim desde 1994.
Fonte: O Tempo (MG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário