sábado, 1 de março de 2014

Bernardinho não aceita convite de Aécio para disputar governo do Rio

Em carta, técnico diz que após reflexão, concluiu que no momento essa não é uma opção para ele e sua família

Cássio Bruno

RIO - O técnico da seleção brasileira de vôlei Bernardinho não aceitou a proposta do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de se candidatar ao governo do Rio pelo partido. Os dois se encontraram no início da tarde desta sexta-feira no apartamento do parlamentar mineiro, em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Pré-candidato à Presidência e ainda sem palanque no estado, o senador insistia em lançar Bernardinho para concorrer ao Palácio Guanabara.

A decisão de Bernardinho, antecipada hoje pelo colunista do GLOBO, Ilimar Franco, abre caminho para uma possível aproximação do PSDB de Aécio com o PMDB do governador Sérgio Cabral. O presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, inclusive, defenderá a aliança com os tucanos na convenção do partido. Neste domingo, Aécio Neves estará no camarote do prefeito Eduardo Paes (PMDB) na Marques de Sapucaí.

O PMDB do Rio rompeu com o PT da presidente Dilma Rousseff, pré-candidata à reeleição, após os petistas lançarem a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo, com o aval do ex-presidente Lula, e não apoiarem o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), outro pré-candidato ao cargo.

Em maio do ano passado, durante uma reunião do PMDB, em Brasília, Sérgio Cabral lembrou a aliados sua íntima relação com Aécio. Ao comentar sobre a difícil missão de fazer com que o PT embarcasse na pré-candidatura de Pezão, Cabral disse:

- Não é bem assim que a gente não tenha alternativa. Eu tenho relação com várias pessoas no mundo político. O nome do meu filho é Marco Antônio Neves Cabral - disse, apontando para o filho, também presente ao encontro.

Marco Antônio é filho do primeiro casamento do governador, com Suzana Neves, que é parente de Aécio.

Na reunião, que durou cerca de meia hora, Bernardinho entregou uma carta a Aécio explicando os motivos de não disputar a sucessão de Cabral. Um deles foi a pressão da família do técnico. Em um dos trechos, Bernardinho escreveu:

“Pelo amor que sinto pelo meu país e por acreditar no projeto que você (Aécio) lidera, a decisão se tornou ainda mais difícil. Mas após muita reflexão, concluí que no momento essa não é uma opção para mim e minha família”.

E completou:

“Nosso diálogo reascendeu minha esperança e confiança no Brasil e, portanto, colocou-me ao seu lado nessa caminhada que se inicia. Sem fechar as portas para a chance de, no futuro, voltarmos a discutir uma possível candidatura, quero me colocar a sua disposição para, no Rio ou em qualquer parte do Brasil, acompanhá-lo e ao seu lado ajudar a escrever novas e belas páginas da história do nosso Brasil”.

Ao GLOBO, a mulher de Bernardinho, a ex-jogadora de vôlei Fernanda Venturini, justificou:

- Temos dois filhos pequenos. Duas meninas de 4 e 12 anos. A política no Brasil é complicada. Sem comentários.

Em seu perfil no Facebook, Aécio publicou a carta de Bernardinho e escreveu:

“Acabei de receber a visita do Bernadinho, que decidiu adiar o seu projeto político. Mas fiquei muito feliz com a sua decisão de participar conosco dessa caminhada a favor do Brasil. Divido com vocês a carta que ele me entregou”.

Um dos presentes no encontro de Aécio e Bernardinho foi o presidente regional doPSDB, deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha. Ele lamentou a decisão do técnico:

- Ele seria um candidato muito bom. Será útil para a campanha presidencial. Temos respeito pela decisão dele. Ele quis se preparar melhor para disputar uma eleição.

Luiz Paulo, no entanto, não quis comentar a possibilidade de o PMDB do Rio apoiar Aécio Neves. O deputado disse apenas que, a partir de agora, o senador buscará um outro nome entre partidos aliados, como DEM, PPS, PV ou o próprio PSDB. Pré-candidato ao governo do Rio pelo DEM, o vereador Cesar Maia, ex-prefeito, tem pressionado Aécio.

- Meu pai (Cesar Maia) está conversando com o Aécio. Vai voltar a conversar depois do carnaval. Seria bom ter o apoio do PSDB porque consolida a aliança nacional - afirmou o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Além de Bernardinho, falou-se também na ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Graice, recém-filiada ao PSDB. O deputado estadual Otavio Leite (PSDB-RJ) não quis polemizar:

- O que posso dizer é que faremos o melhor para o Aécio no Rio.

Procurado pelo GLOBO, Bernardinho não retornou as ligações.

Leia a íntegra da carta:
“Caro Aécio,
Os últimos meses não foram fáceis para mim.

A oportunidade que você o PSDB me apresentaram, de participar de forma mais ativa da vida política do nosso país, me tocou profundamente.

Pelo amor que sinto pelo meu país e por acreditar no projeto que você lidera, a decisão se tornou ainda mais difícil. Mas após muita reflexão, concluí que no momento essa não é uma opção para mim e minha família.

Foram extremamente marcantes para mim, nossas conversas sobre os desafios que o Brasil precisa enfrentar e, principalmente, o esforço que todos precisamos fazer para que a política recupere o que ela tem de mais valioso: valores e princípios capazes de inspirar as pessoas e superar problemas que se eternizaram, com isso melhorando a condição de vida em nosso país.

Este é um dever que temos para com as atuais e futuras gerações de brasileiros.

Nosso diálogo reascendeu minha esperança e confiança no Brasil e, portanto, colocou-me ao seu lado nessa caminhada que se inicia. Sem fechar as portas para a chance de, no futuro, voltarmos a discutir uma possível candidatura, quero me colocar a sua disposição para, no Rio ou em qualquer parte do Brasil, acompanhá-lo e ao seu lado ajudar a escrever novas e belas páginas da história do nosso Brasil.

Atenciosamente”

Fonte: O Globo

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