• Apesar de críticas, inclusive, dentro do partido, legenda repete o discurso dos fantasmas do passado em nova peça partidária
Grasielle Castro – Correio Braziliense
O PT decidiu manter o tom do "discurso do medo" na propaganda partidária de 10 minutos, exibida ontem, com a associação da vitória da oposição ao risco de retrocesso não só nas políticas sociais, como também no combate à corrupção. No anúncio, protagonizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela presidente Dilma Rousseff e pelo presidente do partido, Rui Falcão, o estabelecimento de uma fronteira entre o governo do PT e o da oposição é nítido, com direito a resposta às críticas que têm recebido na economia e a aposta no tom de ameaças. O filme está repleto de afirmações como "Não basta crescer no mundo dos economistas, é preciso crescer na vida das pessoas" e "O que eles (oposição) querem é criar uma cortina de fumaça para trazer o passado de volta", além de "O que você prefere? Avançar no combate à corrupção ou voltar ao passado".
A estratégia já tinha sido apresentada na última terça-feira. Em uma inserção de um minuto, na qual a legenda mostra pessoas felizes até avistarem elas mesmos desempregadas, com uma voz que diz: "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço". O anúncio foi exibido no dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu a exibição da propaganda partidária estrelada pela presidente Dilma Rousseff, por sugerir a ideia de "continuidade das mudanças do governo". A decisão foi tomada após representação do PSDB, que questionou o material.
Na peça de ontem, as marcas de Lula são evidentes, com o uso até mesmo de uma de suas expressões mais marcantes: "nunca antes na história desse país". A aposta na imagem do ex-presidente segue o plano de mostrar à população que é Lula quem está por trás de Dilma. O entendimento, na cúpula do partido, é de que a associação abocanha a parte da população que acredita que Lula é o mais indicado para promover mudanças no país — tema que também foi explorado na propaganda. Segundo pesquisa Datafolha, divulgada recentemente, cerca de 70% dos brasileiros desejam que o próximo presidente adote ações diferentes e a maioria acredita que o petista é o mais indicado.
A publicidade, porém, foi encarada dentro do próprio partido como uma ação de desesperados. Desde a manhã de terça-feira, quando foi mostrada para os correligionários, o filme tem gerado críticas. Há petistas que dizem que a presidente deveria evitar a exibição de fragilidades e os ataques gratuitos. "Porque ela não mostra o que fez? Podia deixar os outros candidatos se degladiando sozinhos", reclama um aliado. A tática vai contra, inclusive, a preocupação que tem sido considerada no Palácio do Planalto de não antecipar o debate eleitoral. No governo, o entendimento é o de que ela tem que aproveitar os últimos dias para inaugurar obras e mostrar as realizações.
Essa preocupação, inclusive, foi a razão que Dilma deu ao presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) para não comparecer à Marcha dos Prefeitos deste ano, que acabou ontem. Segundo ele, Dilma disse que sua presença poderia soar como "questão de campanha".
Colaborou Diego Abreu
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