Marina Dias, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - Em uma tentativa de justificar alianças com partidos adversários e o governo de ampla coalizão que fez em Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) vai calibrar o discurso de mudança que tem sustentado durante a pré-campanha neste sábado (28), dia em que oficializa sua candidatura à Presidência.
Na convenção do PSB, que será realizada em Brasília, Campos dirá que é aquele capaz de dialogar com todos os partidos, inclusive com PT e PSDB, para assim "unir forças pelo país".
Sob o slogan "Coragem para mudar o Brasil" –que terá variações com a palavra "compromisso", entre outras–, o presidenciável dará exemplos da história recente, como as Diretas-Já e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, para explicar que a união de lideranças que atuam em lados opostos pode ter resultados positivos.
A cúpula da campanha avalia que, dessa forma, Campos justifica as alianças do PSB em São Paulo com os tucanos e, no Rio, com os petistas, tachadas de contraditórias por adversários.
O PSB optou pelo PSDB e pelo PT em dois dos maiores colégios eleitorais do país porque não conseguiu construir candidaturas viáveis com nomes da sigla. Acabou, por isso, sucumbindo a pressões dos diretórios locais do partido, interessados nas alianças que acabaram sendo feitas.
Além de São Paulo e Rio, Campos também estará no palanque de partidos criticados por ele no plano nacional, como o PMDB. O PSB terá candidato próprio em 12 Estados. Em sete, apoiará o PMDB, em outros dois, o PT, e em três, o PSDB.
Durante gestão em Pernambuco, o ex-governador chegou a ter o apoio de 17 partidos. Em quase oito anos à frente do Palácio do Campo das Princesas, nomeou parentes de políticos para cargos públicos e entregou postos no primeiro escalão a partidos que eram inicialmente de oposição, como o PSDB.
Todos esses são fatos contraditórios ao discurso que o pernambucano ecoa desde outubro, quando a ex-senadora Marina Silva, vice em sua chapa na disputa pelo Planalto, filiou-se ao PSB.
Colocando-se como terceira via, Marina rechaça os acordos com tucanos e petistas e estende a Campos a posição de alternativa à polarização entre PT e PSDB.
Até agora, o pernambucano tem feito discurso crítico à distribuição de cargos em troca de apoio, diz que, se eleito, governará sem as "velhas raposas" da política.
Sua fala na convenção não deixará, no entanto, de ter o habitual tom oposicionista ao governo Dilma Rousseff. Campos também deve provocar o tucano Aécio Neves, que nesta semana sugeriu a políticos que "suguem mais um pouco [do governo], depois venham para o nosso lado", referindo-se à base da presidente Dilma.
Campos quer mostrar as insuficiências do modelo petista e apresentar a educação e a segurança pública como duas das prioridades de seu eventual governo.
O evento deste sábado em Brasília deve terminar antes do jogo Brasil x Chile, que acontece às 13h.
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