• A primeira etapa da campanha eleitoral termina oficialmente hoje com a confirmação das alianças, que definem o tamanho dos programas dos candidatos ao Palácio do Planalto no rádio e na televisão
Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense
Às vésperas do fim do prazo para as convenções partidárias, o eleitorado brasileiro presenciou uma corrida frenética e ensandecida por alianças políticas que trouxessem tempo de televisão e palanques fortes nos estados para que os presidenciáveis pudessem ter espaço para expor propostas de campanha. A data-limite é hoje, mas os tempos de televisão estão praticamente definidos (leia quadro). A presidente Dilma Rousseff, com nove partidos coligados oficialmente terá aproximadamente 9 minutos e 40 segundos na propaganda eleitoral; Aécio Neves (PSDB e mais cinco legendas) terá 3 minutos e 10 segundos e Eduardo Campos (PSB e mais quatro partidos) terá ao seu dispor 1 minuto e 46 segundos.
Os acordos de última hora, contudo, incluíram nomeações às pressas para ministérios, defecções de último momento de aliados e necessidade de liberar acordos estaduais para fechar coligações no plano nacional. A convenção do PP, por exemplo, foi parar na Justiça, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi obrigado a ratificar a aliança do partido com a presidente Dilma Rousseff no plano nacional. "Não havia por que reclamar, já que não fizemos nada que estivesse contra os estatutos do partido. Tanto que a bancada de deputados federais não reclamou da decisão", disse o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), acrescentando que pepistas mineiros não questionaram a aliança apesar do efusivo discurso contrário feito pelo presidente do diretório de Minas, o governador Alberto Pinto Coelho.
O PR, para acatar a aliança nacional com Dilma, chantageou o Planalto e conseguiu a exoneração do ministro dos Transportes, César Borges, substituído por Paulo Sérgio Passos. Existe a expectativa de que a legenda recupere também o controle do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), presidido atualmente pelo general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, nomeado pela presidente Dilma em 2011, quando ela decidiu desalojar o PR do Ministério sob a acusação de superfaturamento em obras. "O PR pediu a porteira fechada para apoiar a presidente. Com a promessa de que isso acontecerá, não há por que o apoio não vir", disse um interlocutor da legenda.
É no plano estadual, contudo, que os arranjos políticos mais confundem a cabeça dos brasileiros. "É evidente que aqueles que sonham com os partidos políticos transformados em um espaço de divulgação de propostas e ideologias saem desse processo desapontados", disse o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf. "Mas quem conhece minimamente o processo de fragmentação partidária sabe que é impossível fazer campanha sem alianças", completou o cientista político.
Os principais embates e reviravoltas se deram, especialmente, nos dois maiores colégios eleitorais do país: Rio e São Paulo. Fechado com a presidente Dilma no plano nacional, o PSD, de Gilberto Kassab, flertou com o PSDB, de Geraldo Alckmin, e confirmou que não havia possibilidade de coligar-se com o PT, de Alexandre Padilha, e acabou unindo-se ao PMDB, de Paulo Skaff. No Rio de Janeiro, Aécio Neves e Dilma Rousseff racham o PMDB fluminense.
A máquina peemedebista local mergulhou de cabeça na campanha de Aécio Neves, estimulada pelo presidente do diretório estadual, Jorge Picciani. Ele lançou a chapa Aezão (Aécio + Pezão, Luiz Fernando Pezão, candidato do PMDB ao governo do Rio), movimento que recebeu a adesão do ex-governador Sérgio Cabral Filho. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, contudo, reagiu à aliança, chamou-a de "bacanal eleitoral" e anunciou que apoiará Dilma. Interlocutores do prefeito carioca reconhecem que ele "não morre de amores pela presidente". Mas não seria, segundo aliados de Paes, possível apoiar uma composição estadual que ressuscitou César Maia (DEM) para o Senado.
Ensaios
Rio e São Paulo também se transformaram no pesadelo da dupla Eduardo Campos e Marina Silva. Depois de ensaiar, sem sucesso, o lançamento de candidatos próprios no primeiro e no terceiro maior colégio eleitoral do país, a aliança PSB/Rede acabou tendo de se contentar em pegar carona no palanque de outros candidatos estaduais. Em São Paulo, o PSB acertou a vaga de vice para Márcio França na chapa do tucano Geraldo Alckmin, em uma jogada que foi considerada por estrategistas como uma derrota política de Eduardo Campos. No Rio, o PSB também foi obrigado a buscar uma aliança, surpreendemente com o PT: o candidato petista Lindbergh Farias terá como companheiro de chapa para o Senado o deputado Romário (PSB).
A última grande interrogação ainda em aberto é quem será o vice na chapa do tucano Aécio Neves ao Palácio do Planalto. A decisão sairá nesta segunda, 30, durante reunião da Executiva Nacional do partido, em Brasília (leia mais na página 3). Dois nomes agora são cotados para a vaga: o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie.
"É evidente que aqueles que sonham com os partidos transformados em um espaço de divulgação de propostas ficam desapontados. Mas quem conhece o processo de fragmentação partidária sabe que é impossível fazer campanha sem alianças" - Rui Tavares Maluf, cientista político
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