- Folha de S. Paulo
A cada quatro anos, é a mesma novela: forjam-se as alianças para as eleições gerais e todo mundo se põe a apontar suas inconsistências ideológicas.
De fato, algo soa estranho quando siglas inimigas no plano federal se coligam em algum Estado, ou quando aliados federais rompem numa disputa local. Também não é fácil engolir os casos em que um balde de legendas, que cobre todos os espaços concebíveis do espectro ideológico, se junta para apoiar um candidato.
Como isso é possível? São nossos políticos ou eleitores que estão errados? Creio que o responsável aqui é uma combinação dos dois fatores.
Os políticos criaram um sistema disfuncional, que, através principalmente do tempo de TV, concede poder desproporcional às pequenas e médias legendas. Em busca de segundos a mais na propaganda gratuita, candidatos se curvam a interesses mais fisiológicos que políticos.
Isso, entretanto, é apenas parte do quebra-cabeças. Os partidos que se especializaram em predar legendas maiores ou mais competitivas, sobrevivem porque têm votos.
O problema aqui é que nossas cabeças ainda operam com uma concepção de democracia que se mostrou errada. Gostamos de imaginar que o eleitor escolhe seu representante de forma racional, ponderando seus interesses, os do país e as propostas de cada postulante. Uma série de experimentos e estudos, entretanto, sugere que, de um modo geral, o cidadão vota nas pessoas e ideias que, por razões subjetivas, lhes são mais simpáticas e depois tenta revestir essa decisão de motivos racionais.
Se esse modelo é correto, não faz muito sentido cobrar consistência ideológica do sistema. Seria mais razoável redesenhá-lo de modo a dificultar a vida das siglas predadoras. Eu acabaria com as coligações para o Parlamento, tiraria o tempo de TV para o Executivo de quem não lança postulante e permitiria candidaturas desvinculadas de partidos.
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