- Folha de S. Paulo
Mantida a tendência de julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal, esta pode ser a última eleição com doação legal de empresas para candidatos, que passaria a ser proibida no país.
Oportunidade única para pôr fim ao período de coleta desenfreada de grana para campanhas, assim definido por um experiente político: humilhante para os honestos e porta da esperança para os corruptos.
Talvez os primeiros sejam maioria, mas não têm acesso aos cofres privados. Os segundos são minoria, mas controlam a maioria porque conhecem o caminho do dinheiro.
Isso me faz recordar fato ocorrido no início dos anos 90. Um empresário foi procurado por um assessor em nome de um candidato a governador no Sudeste. Motivo: um pedido milionário de doação.
Resposta positiva, mas com uma condição. O dinheiro seria entregue diretamente ao candidato. Afinal, o doador não enxergava no emissário alguém com ascendência sobre o destinatário da grana.
Resposta negativa. A verba tinha de ser entregue ao emissário original. Decidido a fazer a doação, o empresário encheu a pasta com a quantia pedida e foi ao encontro do candidato, de quem era próximo.
Depois de um chá de cadeira, não foi recebido. Da secretária, ouviu o recado de que o endereço de entrega estava errado. E teve a garantia de que o interlocutor era, sim, de total confiança. A grana foi doada.
Explicação do empresário para o episódio. Você não pode doar sem ter a certeza de que o candidato sabe que você está sendo muito generoso. É preciso estabelecer um vínculo a ser cobrado mais à frente.
Por isso os verdadeiros caixas de campanha não só falam em nome do candidato como têm influência sobre ele. Esta é a regra de ouro do negócio e a origem de todas as negociatas.
Livrar-nos delas totalmente é utopia. Mas o STF pode, mais uma vez, pressionar o Congresso a se mexer. O risco é criarem novos atalhos.
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