- O Estado de S. Paulo
Mesmo figurando com minguados 3% das intenções de voto nas últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope, não tendo ido além de 4% em edições anteriores, o Pastor Everaldo (PSC) vem chamando atenção de parte da imprensa. Alguns fatores contam para isto.
Primeiramente, o pastor se destaca entre os candidatos ditos nanicos, que via de regra não vão além do traço ou de 1% nesta fase da disputa. A propósito, vale lembrar que o recentemente falecido Plínio de Arruda Sampaio, político de larga, relevante e respeitável trajetória política, nem sequer atingiu 1% dos votos na eleição presidencial de 2010, quando concorreu pelo PSOL - partido que atingira 6% em 2006, com Heloísa Helena. Assim, os atuais 3% de Everaldo são significativos, embora valha lembrar que ele conta também com a segunda maior rejeição.
Mas até onde pode ir um candidato com seu perfil? Os protestantes brasileiros são 22% da população, segundo o último Censo. Os pentecostais ou neopentecostais são 13,3%. A Assembleia de Deus, grupo pentecostal composto por diversas denominações (inclusive a de Everaldo), detém 6,5%. Se transpusermos esses porcentuais da população em geral ao eleitorado, veremos que se trata de grupo grande - embora muito dividido.
Isso ficou claro em reportagem publicada pelo Estado em 20 de julho, indicando a pulverização dos apoios das várias igrejas evangélicas normalmente envolvidas na política. Assim, embora o candidato do PSC conte com o sustento de muitas, há também as que apoiam Aécio Neves, Eduardo Campos ou Dilma Rousseff. No caso da presidente, a adesão mais destacada provém da Igreja Universal do Reino de Deus, inclusive de forma direta, por meio do PRB, braço político do empreendimento religioso-midiático-partidário capitaneado por Edir Macedo.
Tendo em vista tais divisões, o alcance eleitoral de Everaldo e seu partido é, ao menos por ora, mais limitado do que os 22% do total de protestantes brasileiros, bem como do que os 13% de pentecostais e neopentecostais, ou, talvez, mesmo do que os 6,5% de fiéis da Assembleia de Deus. Isso não significa que o partido não possa crescer em eleições futuras, tanto na disputa presidencial como nas parlamentares. Aliás, as candidaturas de evangélicos que se apresentam como tais, utilizando denominações como Pastor, Bispo ou Missionário, cresceram 45% de 2010 para este ano, como mostrou levantamento feito pelo Broadcast Político. A questão é verificar se há aumento da demanda correspondente ao crescimento da oferta.
O PSC pretende atingir 35 deputados na disputa deste ano, o que lhe daria uma bancada de 7% da Câmara - aproximadamente metade da atual bancada evangélica. O impulso para isso viria não só do magnetismo produzido pela candidatura presidencial própria, mas também do sucesso de eventuais puxadores de votos, como o pastor Marco Feliciano, convertido em celebridade política ao conduzir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara no contrapelo de suas tendências usuais e ganhando mais notoriedade quanto mais se lhe atacava.
O PSC pode fazer uma aposta politicamente interessante, de se tornar um partido de nicho. Com candidaturas focadas num discurso fortemente marcado por valores religiosos, de perfil moralmente conservador, um partido pode se inviabilizar como alternativa majoritária, capaz de vencer eleições presidenciais ou de governador. Contudo, pode assegurar uma parcela fiel de eleitores, que lhe permitam não só barganhar apoios em segundos turnos (estratégia que já foi anunciada por Silas Malafaia), como construir uma bancada coesa e de dimensões consideráveis nos Legislativos - onde também deteria poder de barganha nada desprezível. Os partidos religiosos de Israel, país que também conta com grande fragmentação partidária, operam basicamente dessa forma.
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