• Para políticos, eleitores que pretendiam anular votação ou não tinham candidato devem passar a votar em Marina
Júnia Gama*, Ana Paula Ribeiro e Cleide Carvalho – O Globo
RECIFE e SÃO PAULO - No Palácio das Princesas, em Recife, onde foi velado o corpo de Eduardo Campos ontem, políticos de diversos matizes tinham avaliação semelhante sobre os efeitos da morte dele no cenário eleitoral. Sob a expectativa da primeira pesquisa oficial após a tragédia, o comentário geral era sobre a imprevisibilidade com a chegada de Marina Silva na disputa nacional e também nos estados.
A perspectiva é que Marina seja receptora, no primeiro momento, de boa parte dos votos dos eleitores que pretendiam anular ou ainda não tinham candidato, mas que isso poderá mudar à medida que vá se dissolvendo a comoção sobre a tragédia.
A principal prejudicada neste início, apontam alguns petistas e integrantes da base governista, deve ser a presidente Dilma Rousseff. Sondagens informais de políticos do PT mostram que, em alguns estados, Marina já teria herdado votos em branco e nulos e começado a pegar alguns pontos de Dilma. Mas o impacto de Marina na campanha pode acabar também tirando Aécio Neves do segundo turno.
Desconhecimento superado com a tragédia
As pessoas que circulavam pelo palácio na manhã de ontem durante o velório comentavam que, paradoxalmente, o principal obstáculo de Campos - seu desconhecimento - havia sido superado com a tragédia. Ele se tornou conhecido com a comoção, e há possibilidade de esse fator ser traduzido em votos para sua sucessora.
- A comoção gera conhecimento, e esse conhecimento se transforma em referencial. A pessoa que melhor pode representar esse referencial é Marina - afirmou a interlocutores o senador Walter Pinheiro (PT-BA), no Palácio das Princesas.
A disputa em alguns estados também pode ser afetada. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, na missa em homenagem a Campos, lembrou que Marina teve votação expressiva no estado em 2010 e que pode, de imediato, recuperar esse recall. Mas Pezão crê que ela não deverá entrar de cabeça em nenhuma candidatura no Rio, já que o ex-presidente Lula dificilmente permitirá que Marina participe da campanha de Lindbergh Farias, que se aliou ao PSB em acordo costurado por Campos.
Pezão destaca que a participação de Marina no estado não dependeu, em 2010, de estrutura partidária. Ela pode, no entanto, ter alguma atuação ao lado de Romário, candidato ao Senado pelo PSB.
Há avaliações de que a entrada de Marina na disputa presidencial rompe a lógica de polarização entre PT e PSDB. Com o recall dos 19,6 milhões de votos que obteve na eleição presidencial de 2010, quando disputou pelo PV e ficou com quase 20% dos votos válidos, Marina coloca o PSB no páreo por um lugar no 2º turno.
Nem PT, nem PSDB, porém, pretendem transformá-la em alvo de ataques no 1º turno, não só na tentativa de manter bom relacionamento para o 2º turno, mas também para aguardar que diminua a comoção pela tragédia e possam mensurar seu efeito na atração de votos para Marina.
Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, diz que a presença de Marina terá impacto maior na campanha do PT do que na do tucano Aécio Neves:
- Campos não era parte da disputa real. Ele não tinha mais como subir. Ela (Marina) tem um recall imenso da última eleição e representa bem mais do que o Eduardo o desânimo com a política.
Na avaliação de Goldman, Marina vai quebrar a linha de raciocínio das últimas campanhas petistas que buscava transformar o embate numa disputa de pobres contra ricos e contra uma suposta elite que representa retrocesso. Goldman afirmou que o PSDB não deve mudar sua campanha e continuará se colocando como oposição ao PT:
- Nossos inimigos são Dilma, Lula e PT. Nossa campanha é contra o PT, oferecendo uma alternativa. Irá para o 2º turno quem oferecer a melhor alternativa. Só existe um candidato de situação.
Para Goldman, enquanto o PSDB continuará a centrar fogo contra o inimigo de sempre, o PT terá de enfrentar uma candidata que já esteve na legenda e saiu por discordar dela.
O secretário de Comunicação do PT, José Américo, porém, afirmou que o principal adversário continua a ser Aécio e que, no caso da nova candidata do PSB, será adotado tom de respeito, até pela proximidade com alguns petistas:
- É com o Aécio que vamos polarizar. Ela será tratada com respeito. Mas eleição é eleição. Se ela for para o 2º turno, vamos destacar as nossas diferenças, mas não será uma polarização.
"Tendência é perder palanques de campos"
O PT vai continuar a insistir que o tucano é quem que representa o atraso e o conservadorismo. Porém, segundo Américo, ainda é cedo para qualquer avaliação sobre o efeito de Marina na campanha, o que só será possível entre dez e 15 dias, com a divulgação das primeiras pesquisas após alguns dias de campanha na TV.
Florisvaldo Costa, secretário de Organização do PT, encarregado de fazer o mapa das alianças nos estados, não crê que Marina Silva seja tão impulsionada pela comoção causada pela tragédia:
- Marina continua sem palanque nos estados, e a tendência é perder palanques que eram de Campos. Mas quem vai ter o primeiro problema é Aécio. Ele terá de olhar para frente e para o retrovisor. Nós faremos a defesa do nosso projeto de governo.
Em SP, o PT deverá priorizar sua campanha na Região Metropolitana da capital, onde a presença do partido é forte, e em municípios onde Dilma aparecerá ao lado do ex-presidente Lula, como São José do Rio Preto, Campinas, São José dos Campos e Presidente Prudente. (* Enviada especial )
Nenhum comentário:
Postar um comentário