• Cientistas políticos dizem que detalhes farão a diferença e que, a menos que surja um fato novo, incerteza sobre o vencedor permanecerá até o final
Mariana Sanches – O Globo
SÁO PAULO - Especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que, diante de um cenário de empate técnico a 11 dias do segundo turno, a eleição presidencial deste ano se mostra como uma das mais acirradas e polarizadas da História do Brasil. Para eles, a cristalização das intenções de voto indica que nem o apoio de Marina Silva (PSB) ao tucano nem a divulgação das denúncias na Petrobras conseguiram provocar alterações do quadro.
Segundo cientistas políticos, o apoio de Marina e de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, veio tarde demais, e Aécio acabou não angariando nenhum efeito positivo dos anúncios:
- O eleitor de Marina foi mais decidido do que sua candidata e tomou posição já na semana passada, por isso não se vê alteração na pesquisa atual - disse o cientista político Fernando Abrúcio, da Fundação Getúlio Vargas.
A baixa influência de Marina na definição dos votos não surpreende, segundo o analista Carlos Melo, do Insper.
- Não existem mais condutores de votos. Isso só aconteceu em 1989, quando Brizola transferiu todos os seus votos para Lula - afirmou Melo.
Apesar da grande estabilidade do cenário eleitoral, um dado chamou a atenção dos cientistas políticos: a rejeição do candidato Aécio Neves aumentou, apontam os dois institutos. O percentual de eleitores que afirmava não votar no tucano de jeito nenhum passou de 34%, no dia 9, para 38%, de acordo com o Datafolha. Com isso, a taxa de rejeição de Aécio se aproximou à da presidente Dilma. Hoje, 42% dos eleitores se recusam a escolher a candidata. No dia 9, eram 43%, como mostrou o Datafolha.
- Isso sugere que a campanha negativa petista surtiu um efeito no aumento da rejeição do tucano - analisou o cientista político Fernando Antônio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos, que continuou: - Além disso, Aécio vinha numa trajetória ascendente tanto no primeiro turno como na primeira pesquisa do segundo turno. Agora, ele parou de subir na preferência do eleitor.
Os analistas, no entanto, não arriscam dizer se o uso de uma artilharia constante contra o tucano funcionará a ponto de reverter o cenário atual e derrubar os índices de intenção de voto de Aécio. A mesma tática foi usada contra Marina, e tida pelos especialistas como causa de sua derrota. A estratégia de desconstrução da candidatura funciona bem no curto prazo, segundo eles. Mas há semanas o PT tem adotado a ferramenta.
- O eleitor pode cansar disso porque percebe que só mudou o personagem, mas o teor das críticas é sempre o mesmo. Fica cansativo - afirmou Melo.
Para especialistas, as pesquisas apontam para uma impressionante semelhança tanto nas intenções de voto quanto nas rejeições dos dois candidatos. Isso faz com que a decisão do pleito recaia sobre os cerca de 6% dos eleitores que hoje se declaram indecisos. Nesse contexto, aumenta a importância dos debates televisivos. Serão três até a eleição.
- Em uma eleição tão dividida, os detalhes farão a diferença. E a audiência alta dos debates mostra o interesse dos eleitores pelas discussões dos candidatos - afirmou Azevedo.
Carlos Melo, do Insper, resume o cenário atual. Para ele, se nenhum grande fato novo surgir, o pleito será definido apenas às vésperas da votação, uma situação historicamente incomum na recente democracia brasileira:
- Ficamos acostumados com eleições fáceis. FHC, Lula e Dilma não tiveram dificuldade para vencer, mas não vai ser sempre assim. A eleição atual vai ser decidida por um focinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário