• Apoio de Marina a Aécio e troca de acusações entre ele e Dilma não alteraram intenção de voto
Sérgio Roxo e Júnia Gama – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Depois de dez dias de segundo turno, marcados por anúncios de apoio e uma intensa troca de acusações entre os candidatos - com destaque para as denúncias de corrupção na Petrobras contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e a tentativa de desconstrução da gestão de Aécio Neves no governo de Minas -, pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem mostraram cenário de estabilidade na disputa presidencial.
Tanto o Ibope quanto o Datafolha apontaram queda de um ponto percentual para cada um dos candidatos. Assim, a vantagem numérica do tucano de dois pontos, dentro da margem de erro, se manteve em relação aos levantamentos dos dois institutos divulgados na quinta-feira da semana passada. Há também números que sugerem consolidação do voto nos dois presidenciáveis e aproximação no índice de rejeição. Nenhuma pesquisa, portanto, captou tendência de mudança nos últimos sete dias.
As duas pesquisas trazem Aécio com 45% das intenções de voto e Dilma, com 43%, se considerado o total de votos. Na semana passada, o tucano aparecia com 46%, e a petista, com 44%. Quando são levados em conta apenas os votos válidos, sem os eleitores que estão indecisos e os que pretendem votar em branco ou nulo, o candidato do PSDB soma 51%, e Dilma, 49%, mesma pontuação dos levantamentos anteriores.
As duas pesquisas foram realizadas após o anúncio de apoio a Aécio por parte de Marina e de Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O Datafolha ainda conseguiu captar parte da repercussão do primeiro debate do segundo turno, realizado na noite de terça-feira pela TV Band.
O Datafolha também apurou o grau de convicção do voto do eleitor. De acordo com a pesquisa, Aécio e Dilma empatam nesse critério, com 42% dos eleitores de cada um deles declarando ter certeza da opção. Há 18% que dizem talvez votar no tucano (contra 22% na semana passada). Na petista, esse grupo representa agora 15% (era 14% na pesquisa anterior).
A rejeição aos dois candidatos também se aproximou, segundo os dois institutos. Para o Datafolha, o total dos que dizem não votar em Aécio de jeito nenhum passou de 34% para 38%. Os que rejeitam Dilma eram 43% e agora, 42%. Já o Ibope mostra queda na rejeição à petista de 41% para 36% e crescimento na do tucano de 33% para 35%.
Desconfiança tucana e alívio petista
O resultado das pesquisas foi recebido com desconfiança pela campanha tucana e com alívio pelos petistas. Aliados de Aécio acreditam que os apoios declarados nos últimos dias, de Marina Silva e da família do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, falecido em agosto, ainda não tiveram efeito sobre as intenções de voto dos eleitores. Já os petistas comemoram, uma vez que os fatos positivos para Aécio não parecem ter influenciado os resultados.
Integrante da campanha de Aécio, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) diz acreditar que a mais recente pesquisa não teria captado ainda os efeitos do apoio de Marina e da família do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, declarados no último fim de semana. O deputado diz que o PT está usando uma estratégia agressiva porque está "desesperado" e que, mesmo assim, Aécio se mantém estável nas pesquisas. Duarte lembra, porém, que é preciso usar "sandálias da humildade" e evitar euforia de vitória antecipada.
- As pesquisas não captam o ato reflexivo do eleitor na reta final. A pesquisa que antecedeu a eleição mostrou isso claramente. Aécio vai crescer muito mais porque tem a seu lado o eleitor indignado com a corrupção, a inflação, o país que não cresce - afirmou.
O presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado Marcus Pestana, afirma que, apesar da campanha de "vale-tudo", segundo ele feita pelo PT, Aécio irá subir nos próximos levantamentos. Ele destaca que a campanha tucana continuará investindo em temas para polarizar contra o PT, como mudança na forma de fazer política, situação da economia, corrupção, em particular na Petrobras, gestão e liderança para executar reformas necessárias.
- Acho que os institutos estão com uma postura conservadora de não apostar em viés de decisão, mas temos notícia de uma situação mais favorável para o Aécio. Tivemos uma semana ainda não totalmente drenada pela sociedade, com o anúncio de apoio de Marina e da família Campos, o PSB, que ainda vai produzir um efeito grande. E teve uma pancadaria do PT em cima do Aécio, uma campanha extremamente radical, raivosa, mostra que eles sabem que estão muito atrás - pontuou Pestana.
Dilma não falou tudo ainda, diz petista
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), afirmou que o resultado da pesquisa traz alívio para os petistas, que tinham uma expectativa de que os recentes anúncios de apoio a Aécio tivessem uma repercussão já neste levantamento. O deputado dá o tom de que o PT deverá continuar partindo para o ataque contra o tucano.
- Esta eleição vai se definindo a cada momento, a recomendação à militância é trabalhar até o último minuto a eleição da Dilma. Os dados trazem um alívio, pelo que se ouvia dizer por aí parecia que Aécio estava com 70, e Dilma com 30. Se está empatado, então é bom. Mostra que tem gente do PSB e da Marina se dividindo. Aécio está usando a mesma postura da Marina, tentando se colocar como vítima, e isso é ruim para ele. O povo não é bobo, o que a presidente Dilma fala tem comprovação, documentos, e o debate serve para isso. E ela não falou tudo ainda! - ameaça o petista.
O senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, também comemorou o resultado. Para Costa, o acúmulo de fatos positivos ocorridos nos últimos dias para Aécio (com o anúncio de apoios) e os fatos negativos para Dilma (com mais denúncias de corrupção na Petrobras) poderiam ter produzido uma vantagem para o tucano, o que acabou não ocorrendo neste último levantamento:
- Achei excelente o resultado, pode até ser estranho, mas, ao longo da última semana, Aécio só acumulou fatos positivos e nós, alguns negativos. Tudo que aconteceu semana passada foi favorável a ele. E mais: a rejeição dele cresceu. Acho que, após o debate de ontem, a tendência é a gente abrir vantagem - disse.
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