- O Globo
O escândalo na Petrobras é como um grande campo exploratório com muitos poços de prospecção. A cada dia aparece um furo novo de onde jorrava dinheiro para financiamento político. A resposta da presidente Dilma de que divulgar isso é um "golpe" é a mesma que apareceu na época do mensalão. Que golpe é a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça apurarem crimes contra cofres públicos?
Se os fatos têm aparecido em época inconveniente para a candidatura à reeleição, nada se pode fazer. O combate à corrupção não pode parar por causa do calendário eleitoral. Os órgãos que receberam a denúncia, apuram, descobrem, tomam os depoimentos da delação premiada, e divulgam o que não está sob segredo de Justiça. Nada fizeram de errado; cumpriram seu dever. A Petrobras é muito maior do que o campo de corrupção que está sendo descoberto. Ela tem 60 anos, uma história de serviços prestados ao país e funcionários em sua imensa maioria comprometidos com os objetivos do desenvolvimento econômico. As investigações fortalecem a empresa e não o contrário. Quem enfraquece a Petrobras é quem foi leniente na fiscalização dos negócios feitos em nome da companhia.
Novos poços de prospecção nesse campo de corrupção aparecem em bases diárias. Na relação com fornecedores, fundos de pensão e empreiteiras. Onde se fura, acha. Ontem foi a vez do Comperj. Antes, nesta semana, descobriu-se que na termelétrica construída ao lado da refinaria Abreu e Lima, a BR Distribuidora entrou como sócia minoritária junto com duas empresas de José Janene e Alberto Yousseff, o doleiro preso e que está depondo em delação premiada. Poço muito mais rentável foi a própria construção da refinaria, cujo custo explodiu com aditivos que ignoraram até os alertas dos técnicos da empresa. Eles achavam que acima de US$ 10 bilhões o negócio era in viável. O orçamento original era US$ 2,5 bilhões e está em US$ 18 bilhões.
Desse poço jorrou muito combustível aditivado para o esquema. O GLOBO informou que a compra de combustíveis no exterior alimentou três contas secretas mantidas lá fora e administradas por genros do réu Paulo Roberto Costa. Para se ter ideia da profundidade desse poço: o Brasil importou US$ 40,5 bilhões de combustíveis em 2013. As compras cresceram muito nos últimos anos. Outro poço de extração vinha do fretamento de navios para trazer o produto. A refinaria de Pasadena foi também uma jazida promissora. Bastou fechar os olhos para o evidente sobrepreço do ativo, comprado pela Astra a US$ 42 mi e adquirido dela por US$ 1,18 bilhão.
Nem os conselheiros impediram. As empreiteiras que fizeram operações com diretorias ligadas aos negócios da prospecção de corrupção irrigaram esse campo e agora terão que se explicar à Justiça. Os áudios dos depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, divulgados pelo juiz Sérgio Moro mostram a proliferação dos poços de exploração desse imenso campo de corrupção.
O esquema de prospectar dinheiro para os partidos na maior empresa brasileira é estarrecedor . A divulgação é esclarecedora e há chance de correção do roubo. O Juiz Moro deu publicidade ao que devia dar e não divulgou o que está sob sigilo: o que os réus disseram na delação premiada. A tentativa da presidente Dilma de condenar a divulgação, e não o crime, foi rechaçada pelo Ministério Público e pela Associação dos Juízes. A Petrobras será beneficiada quando desativarem esse campo de prospecção de financiamento partidário porque poderá se dedicar ao que sempre soube fazer tão bem: explorar petróleo.
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