- O Globo
A Petrobras não é do tamanho do Brasil. Exagero da presidente Dilma. Mas é grande, a maior empresa do país, é importante por sua história, seu esforço de desenvolver tecnologia para encontrar o petróleo no mar em águas cada vez mais profundas. Quem a ataca é a corrupção. Os casos que estão surgindo são escabrosos. Informar o que acontece é a melhor forma de defendê-la.
O truque é velho. Diante das evidências de que houve casos de corrupção na empresa, a presidente-candidata diz que a empresa está sendo atacada por quem revela os fatos. Abraça a bandeira da estatal, que nasceu há 60 anos de um movimento popular, e diz que ela está sendo atacada pelas notícias de que ela teve casos de corrupção. Quer inverter os fatos. Mas o Brasil é mais inteligente do que esse truque de marketing imagina.
A Petrobras tem um lado luminoso que o Brasil conhece e admira. O país aprendeu a conhecer a persistência com que ela foi buscar o petróleo que era difícil em terra. Conhece a sua excelência tecnológica conquistada com muito investimento em pesquisa e desenvolvimento e que a levou à dianteira da exploração em águas profundas.
A conjuntura, no entanto, é de uma empresa que perdeu drasticamente valor de mercado por causa de uma política de preços que a atinge diretamente. Seu principal produto é vendido abaixo do preço que a companhia compra no exterior, todos sabem que a petrolífera não tem autonomia na formação de preços, e isso tem outros efeitos como o de desestabilizar o setor sucro-alcooleiro.
O problema pode ser resolvido com a mudança da política de preços. E se ela for mudada, como quer a atual presidente Graça Foster, a empresa poderá recuperar o valor de mercado que perdeu.
O mais importante, no entanto, é o que aconteceu na compra de Pasadena, nos escabrosos registros apreendidos com o ex-diretor de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa, hoje na prisão, as relações perigosas entre pessoas da empresa, e do partido, e um doleiro para lá de suspeito. Tudo isso é que ameaça a empresa e não a revelação desses erros e crimes. Não é a notícia, ou a investigação da Polícia Federal, ou eventualmente de alguma outra instituição; o que ameaça a empresa são os fatos em si.
A auditoria interna da empresa e os programas de prevenção de corrupção devem continuar, mas não foram suficientes. É autoritário achar que a investigação externa não deve haver porque existe um sistema interno de auditoria. São esses órgãos, como a Polícia Federal, que encontraram por exemplo os fios que levaram às descobertas das atividades de Paulo Roberto Costa.
- Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por proveito político, não hesitam em ferir a imagem da empresa. A Petrobras é maior do que todos nós. A Petrobras tem o tamanho do Brasil – disse a presidente criando um igualdade entre continente e conteúdo. Uma parte não pode ser do tamanho do todo, ainda que seja uma grande parte.
Os desencontros de versões sobre a compra da Refinaria de Pasadena continuam exigindo que todos se expliquem melhor. Foi um bom negócio como diz o ex-presidente José Sergio Gabrieli ou só foi feito porque a presidente do conselho de administração à época, Dilma Rousseff, não teve todos os dados, ou teve todas as informações como assegura o ex-diretor Nestor Cerveró?
Quem está enfrentando críticas é a administração da empresa, e isso não inclui todos os dirigentes. O que se busca entender são determinados negócios da estatal e nem todos os negócios. Será bom se a presidente Graça Foster for no seu depoimento ao Senado com as respostas certeiras que sempre teve e seu estilo sincero. Como Foster não é candidata, não precisa da estratégia de marketing de acusar as dúvidas, as perguntas, e as investigações de ataques à Petrobras em si. São, na verdade, a melhor forma de defendê-la de quem não entendeu sua grandeza, nem respeita seus acionistas e os contribuintes brasileiros.
O discurso eleitoreiro de Dilma de que o PT resgatou a empresa que estava ameaçada não cola mais. A empresa não foi inventada pelo partido. Ela nos seus 60 anos atravessou vários governos. Cresceu em vários governos. Superou crises. E sempre a melhor forma de superar foi submeter-se aos canais democráticos de dúvida e resposta.
Publicado em 15 de abril de 2014
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