Renata Batista e Guilherme Serodio – Valor Econômico
RIO - A estratégia do pré-candidato Aécio Neves (PSDB) de se aproximar do PMDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani incomoda - e afasta - alguns dos mais tradicionais aliados do partido e principais lideranças tucanas no Rio. O PV já declarou apoio ao PT e terá a vice na chapa do senador Lindbergh Farias, no melhor estilo "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". No DEM, o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, espera o apoio do PSDB à sua candidatura ao governo estadual, mas o arranjo orquestrado nacionalmente não exigiria a exclusividade de Aécio no Estado.
Internamente, nenhum dos acordos - nem com o DEM nem com o PMDB - parecem empolgar os dirigentes locais do PSDB, como Luiz Paulo Corrêa da Rocha e Otavio Leite. Na falta de um nome de peso, como o técnico de vôlei Bernardinho, ambos ainda prefeririam uma derrota certa na disputa estadual a uma aliança com o grupo político do PMDB, ao qual se opõem há 15 anos, quando Marcello Alencar (PSDB) deixou o Palácio Guanabara.
Apesar da insatisfação, o cientista político Cesar Romero, da PUC-Rio, avalia que a estratégia de Aécio de apostar em uma aliança suprapartidária com o PMDB é a sua melhor cartada no Estado. Na sua visão, o movimento do "Aezão", como está sendo chamada a aliança informal que reúne o apoio de parte do PMDB fluminense à candidatura de Aécio no plano nacional e ao governador Luiz Fernando Pezão, no Rio, é expressão da fraqueza do PSDB no Estado.
"Na falta de uma candidatura expressiva, o partido tem que buscar uma base que não é sua e, no Rio, quem tem máquina é o PMDB", diz Romero. "Oficialmente Aécio não conta com nada de muito relevante ao apoiar a candidatura do Cesar Maia, mas, na prática, ele pode vir a contar com a máquina do PMDB".
Na semana passada, o deputado federal Otavio Leite foi cauteloso ao se apresentar em um debate de pré-candidatos ao governo estadual e fez questão de frisar que estava ali como representante do PSDB para apresentar as ideias programáticas do partido.
De olho no apoio dos tucanos, Cesar Maia aproveitou para reforçar a posição - frágil - de Leite. Já o pré-candidato pelo PR, Anthony Garotinho, foi mais explícito e acenou: "Vem pra mim!"
Para Romero, esse assédio é resultado do quadro eleitoral no Estado, que ainda é muito nebuloso. Os principais jogadores no tabuleiro querem fazer seus movimentos tendo uma visão mais nítida da corrida presidencial e aguardam o resultado das pesquisas eleitorais. "É possível que o Pezão faça juras de amor à [presidente e candidata à reeleição] Dilma [Rousseff] e vice-versa, mas nenhum dos dois de fato confia no outro nessa articulação", diz.
Integrantes do PSDB no Estado assumem que a prioridade do partido no Rio não é o apoio ao DEM de Cesar Maia, mas a aliança suprapartidária com o PMDB.
"O PSDB se orienta na direção daquilo que seja mais útil para ter votos para o Aécio e hoje não temos nenhum nome que seja eleitoralmente viável", diz um cacique do partido. "Hoje Picciani é o maior poder político do Estado do Rio e este apoio é nosso e está acabado. Um eventual candidato nosso seria só para marcar posição", complementa.
Desde que o PSDB não conseguiu emplacar Bernardinho na corrida estadual, integrantes do partido no Rio já se reuniram ao menos duas vezes com Picciani para acertar seu apoio. Aécio esteve também na cerimônia de casamento de Picciani. Em todas as oportunidades, o envolvimento da bancada do PSDB no Estado, porém, foi tímido. "Há um constrangimento em apoiar um grupo ao qual fazem oposição desde que o Cabral era presidente da Alerj [Assembleia Legislativa do Rio]", diz um observador.
No PV, o discurso oficial indica que a decisão de apoiar Lindbergh também foi motivada pelo incômodo com a aliança entre Aécio e o PMDB. "Tivemos papel protagonista [em chapas] em todas as últimas eleições, sempre disputando o segundo turno com o PMDB. Nosso opção foi manter esse protagonismo", diz o pré-candidato a vice-governador na chapa de Lindbergh, Roberto Rocco (PV).
Um comentário:
Aécio fará uma boa escolha ao apoiar o PMDB. Se for pra perder o apoio de algum partido, que não seja desse.
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