• Dos 20 pontos do tucano no Ibope, 12 vêm de quem acha o governo ruim ou péssimo
- O Estado de S. Paulo
Pensando nas últimas semanas, qual a história da eleição? Dilma Rousseff (PT) parou de cair e parece ter encontrado seu chão em 40%. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) cresceram, para 20% e 11%, após aparecerem na TV. Converteram eleitores que antes prometiam votar nulo, em branco ou estavam indecisos. O que o passado conta serve para o futuro? É possível projetá-lo?
Sim, desde que se aceite que as condições à frente serão as mesmas de trás. Mudanças na conjuntura econômica, sucesso ou fracasso estrondosos da Copa invalidarão as projeções com base no passado. Ainda assim, o exercício é útil para entender a tática dos candidatos diante das tendências do jogo até agora.
A Dilma de 2014 não é a mesma desconhecida de 2010. Antes, bastava Lula martelar seu nome. Quanto mais ele repetia, mais ela crescia. Quatro anos e um governo depois, Dilma é conhecida por 90% dos eleitores - e quase metade de quem a conhece diz que não votaria nela. Na balada atual, quanto mais ela aparece sem Lula, pior é. O ex-presidente ainda é seu maior eleitor.
O teto de crescimento de Dilma cai desde o fim do ano passado. Em setembro, segundo o Ibope, a presidente batia a cabeça nos 56% (33% diziam que votariam nela com certeza, e outros 23%, que poderiam votar). O teto baixou para 51% em abril e chegou a 47% em maio. Ao mesmo tempo, quem diz que não votaria nela de jeito nenhum foi de 34% para 43% do eleitorado.
O achatamento entre o piso e o teto eleitorais de Dilma reflete a polarização das avaliações sobre o governo. Mais brasileiros acham sua gestão ótima/boa ou ruim/péssima. Os que diziam "regular" estão murchando. Ficar em cima do muro não é mais tão confortável. A pressão social dos seus pares e a propaganda estão forçando o eleitor a descer para um lado ou outro.
Em maio, a taxa de ruim/péssimo do governo bateu recorde desde que Dilma é presidente. Chegou a 33%. Desse cardume, o governante nunca pesca mais do que 5% de eleitores. Estão num barril onde os anzóis da oposição fisgam muito mais votos. E quem tem tido mais sorte na pescaria, Aécio ou Campos?
Quanto pior, melhor para o tucano. No Ibope, entre abril e maio, Aécio cresceu de 21% para 35% no terço do eleitorado que desaprova o governo Dilma. Agregou 14 pontos. Ao mesmo tempo e no mesmo barril, Campos pegou mais 7 pontos e chegou a 15%. Como ainda há, nesse segmento, 10% de indecisos e 28% que declaram voto branco/nulo, é o tucano quem mais pode encher seu bornal.
Dos 20 pontos de Aécio, 12 vêm de quem acha o governo ruim ou péssimo - o dobro de pontos que o tucano conseguia até abril nesse segmento. Isso significa que quanto mais gente avalia pior o governo, mais eleitores Aécio ganha em proporção a Campos - e, por tabela, maiores suas chances de ir ao segundo turno.
A pescaria já estaria perdida para o ex-governador de Pernambuco, não fossem os 30% que seguem no meio do caminho entre a simpatia e a ostensiva rejeição ao governo Dilma. Desde abril, Campos dobrou de 7% para 14% entre quem acha o governo regular, enquanto Aécio ficou em torno de 20%. Campos mostrou potencial para crescer nesse eleitorado. Já o tucano parece ter batido no teto ali. Mas há dois problemas para o pernambucano.
À medida que o barril do "regular" esvazia, há proporcionalmente menos eleitores para Campos fisgar. E a concorrência com Dilma entre esses eleitores é mais dura: a presidente tem o voto de um terço dos que acham seu governo mais ou menos.
O passado aponta um futuro em que Dilma e Aécio forçarão a radicalização do eleitorado, apostando num duelo de um contra o outro. Para seguir no jogo, Campos fará o discurso oposto, nem tanto ao mar nem tanto à terra - e tentará provar que tem mais chance do que Aécio de vencer Dilma no segundo turno.
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