- Folha de S. Paulo
O governo se rendeu ao fato de que precisa conversar com Eduardo Cunha, o tempestuoso e polêmico presidente da Câmara, se quiser ter algum tipo de estabilidade no Congresso. Ao menos foi isso que transpareceu do encontro entre Dilma e Lula, que pelas fotos divulgadas esteve mais para acerto de contas do que para uma tertúlia.
Em duas semanas de exercício do cargo, Cunha tornou-se o mais visível político do país. Colocou o PT e o Planalto de joelhos no Parlamento com iniciativas ora defensáveis, ora discutíveis. Tocou música para ouvidos empresariais em São Paulo, insinuando assim voos mais altos.
Também tem feito avançar a agenda de sua base eleitoral, incentivando projetos de cunho conservador --e não no bom sentido da palavra.
Ninguém precisa concordar com suas ideias, mas Cunha é coerente. A verdade é incômoda: ele representa uma parcela da sociedade muito mais expressiva do que nós jornalistas gostaríamos de reconhecer. Tachá-lo meramente de "evangélico" é um reducionismo preguiçoso.
Como presidente da Casa, talvez fosse melhor se ele se portasse como juiz. Mas também é fato que, se estivesse a promover causas ditas "progressistas" (notar aspas), mídia e redes sociais estariam a aplaudi-lo.
O deputado ocupa aos poucos um espaço simbólico de representação popular que o PSDB nunca tomou, por considerar-se um partido mais à esquerda do que é. Com a diferença: ele tem poder e voto. É cedo para saber aonde isso o levará, até porque seu histórico é carregado de maquinações dúbias, mas por ora resta desejar boa sorte ao governo.
Provoca risos frívolos como festejos momescos ler críticas ao patrocínio dado pelo ditador da Guiné Equatorial a uma escola de samba no Rio. O que mais esperavam de um evento que traz no seu DNA a contravenção, o jeitinho e a malandragem?
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