- O Globo
A inflação pode terminar 2015 acima de 7,5%, bem acima do teto da meta. É o que projetam os economistas Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, e Salomão Quadros, responsável por índices de inflação da FGV. O que mais pesará nas taxas será a tarifa de energia. Em fevereiro, Cunha prevê uma taxa que pode ser também em torno 1,2%. O IPC, da FGV, ficou em 1,7% em janeiro. Em fevereiro, ficará abaixo do IPCA do mês.
Entrevistei os dois sobre as perspectivas de inflação de 2015 e 2016. A boa notícia é que eles acham que no ano que vem o índice deve ser menor. Este ano, o custo da recomposição de preços administrados, aqueles sobre os quais o governo tem controle, será alto. Luiz Roberto Cunha está prevendo uma inflação de preços administrados de 13% este ano. No ano passado, foi pouco mais de 5%.
Há uma divergência entre os dois economistas sobre o patamar a que vai chegar o reajuste da energia em 2015. Luiz Roberto Cunha acha que pode ficar em 50%. Salomão Quadros calcula que fica abaixo disso, porque parte do aumento represado será jogado para o ano que vem.
- Eu acredito em 38% de reajuste de energia este ano. Foi importante acelerar o processo de normalização das tarifas de energia elétrica, mas a situação se complicou de tal maneira que não há como resolver de uma tacada só, é muito difícil. Com alta forte assim podem ocorrer outros problemas, como inadimplência, e afetar o caixa das empresas. Então, eu acho que o governo deve fazer uma grande parte do ajuste das tarifas este ano e deixar o resto para o ano que vem, um aumento em torno de 10% - diz Salomão.
O dólar, segundo os economistas, é uma variável crítica para ter uma noção dos custos inflacionários este ano. O que Salomão lembra é que os derivados de petróleo - exceto gasolina e diesel - estão caindo, como querosene de aviação e nafta. E essa queda afetará favoravelmente o custo das empresas, indo para toda a economia. Além disso, os preços de outras commodities têm caído, atenuando a alta dos índices ao produtor. Os IGPs da Fundação estão em torno de 4%.
Cunha lembrou outro ponto favorável. Ele acha que este ano não haverá uma pressão muito grande de preços de alimentos. Foi um item que subiu forte no IPCA de 1,24% de janeiro, o que é normal em começo de ano, quando frutas, verduras e legumes sobem muito. Mas para 2015 ele disse que há dados positivos em grãos, principalmente soja e milho.
Há notícias de perdas em algumas áreas do Sudeste e Centro-Oeste, mas, no mundo, houve safras boas, e a colheita no Sul do Brasil está muito bem. Os preços desses produtos estão em queda, o que reduz a pressão de alimentos na inflação.
- O que pode atrapalhar são a carne e o leite, porque esses dependem das pastagens, muito afetadas pela seca. Não acho que teremos muita pressão de alimentos este ano. O que pesará mesmo será o reajuste de energia. Já começou a pesar com a introdução do sistema de bandeiras, que elevou o preço em janeiro. Agora haverá, em março, um aumento da bandeira - disse Luiz Roberto Cunha.
É um mecanismo que reajusta as tarifas sempre que estiverem sendo usadas as térmicas, que produzem energia a um preço maior. Mas o governo decidiu também elevar o custo dessa taxa extra e isso acontecerá em março. Depois, virá o aumento anual que acontece ao longo do ano, no mês de cada distribuidora. Além disso, haverá o reajuste extraordinário para cobrir o custo dos subsídios que foram retirados pelo governo.
Este é um momento crítico para a inflação, segundo Luiz Roberto Cunha, porque desde a posse do ex-presidente Lula, quando houve uma forte desvalorização, que elevou o índice de preços, nunca mais houve uma inflação tão alta quanto a de janeiro:
- É de fato um momento crítico, mas que corrige os erros do passado.
Salomão lembra que o dólar é muito relevante para a inflação, então sua evolução definirá parte das pressões inflacionárias de 2015, mas elas podem ser mitigadas pela queda dos preços de commodities.
Em resumo: é ano de inflação alta, fevereiro será quase tão forte quanto janeiro e deve ficar acima de 1%. O ano de 2015 termina com taxa de 7,5% na opinião dos especialistas, mas em 2016, a inflação volta para 6%, dependendo da política econômica.
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