• Para presidente, desoneração da folha continua sendo "importantíssima"
• Depois da bronca, ministro admitiu que foi "coloquial demais" em entrevista sobre mudanças no benefício
Mariana Carneiro, Natuza Nery, Renata Agostini – Folha de S. Paulo
URUGUAI, SÃO PAULO, BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff classificou de "infeliz" a declaração do ministro da Fazenda sobre a desoneração da folha de pagamentos.
Ao anunciar as mudanças no benefício na sexta-feira (27), Joaquim Levy havia dito que o mecanismo, implantado e ampliado ao longo do primeiro mandato de Dilma, era "muito grosseiro" e não criava ou protegia empregos.
Questionada neste sábado (28), em viagem ao Uruguai, a presidente condenou a atitude do ministro. "Eu acredito que a desoneração da folha foi importantíssima e continua sendo. Se não fosse importante, nós tínhamos eliminado e simplesmente abandonado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo", disse.
Dilma ainda tentou amenizar a reprimenda ao dizer que o ministro está comprometido com a "melhoria das condições fiscais do país". É a primeira vez que Levy, escalado para conduzir o ajuste fiscal na economia, é criticado publicamente por Dilma.
Na sexta, assessores presidenciais já afirmavam nos bastidores que o ministro contrariara a orientação de não apontar erros passados.
Os comentários de Levy foram feitos durante a divulgação do segundo pacote de medidas de austeridade de sua gestão, iniciada em janeiro. A pasta anunciou a redução do benefício fiscal sobre a folha de pagamentos e corte na alíquota do Reintegra, que concede créditos tributários aos exportadores. Ambos os programas foram criados pelo governo Dilma.
Após a crítica da presidente, o ministro reconheceu a integrantes de sua equipe que foi "coloquial demais" e "infeliz" em algumas expressões, segundo relato obtido pela Folha. Esta é pelo menos a quarta vez, em menos de dois meses de mandato, que Levy tenta reparar uma declaração (veja quadro).
Na avaliação de interlocutores, Levy ainda se porta como um executivo da iniciativa privada e está tendo dificuldades de conciliar a tarefa espinhosa de ajustar as contas públicas com o discurso político da continuidade.
Por vezes, ele mesmo se assusta com a repercussão e se diz "mal interpretado".
Interlocutores lembram, contudo, que a crítica feita agora a Levy é pontual e o tratamento é distinto ao dado, por exemplo, ao ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Após levar uma bronca da presidente, Barbosa teve de voltar atrás da declaração sobre alterações nas regras de reajuste do salário mínimo.
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