- Folha de S. Paulo
Há hoje em dia três modelos de voto disponíveis na cabine eleitoral, a rigor: o válido, que é quando se escolhe um candidato ou partido, o branco e o nulo.
Mas vem aí uma quarta possibilidade, apenas com o inconveniente de ser involuntária. Trata-se do voto inútil, que não valerá nem mesmo o proverbial tostão furado.
Ele já existe, é fato, mas é muito residual. O que se tenta agora é torná-lo a estrela do processo eleitoral.
A novidade deriva do carro-chefe da reforma política que o PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha quer aprovar no Congresso --o distritão, que muda a complexa forma de escolha dos deputados federais.
Hoje, os votos dados a quem perdeu ou a quem ganhou ajudam quase sempre o partido ou a sua coligação a emplacar mais gente na Câmara, nem sempre os mais votados.
Busca-se atender de forma proporcional a vontade de toda a sociedade, mesmo daquelas parcelas que não elegeram seus candidatos.
Como de hábito, a prática de vez em quando humilha a teoria. A consequência dos milhões de votos dados a Tiririca (2010 e 2014) e a Enéas (2002), que tiraram do oblívio próceres da República como Vanderlei Assis (Prona) e seus 275 votos, são distorções sempre lembradas.
Já o distritão é de uma singeleza tocante. São eleitos os deputados mais votados do Estado. Ponto.
Mas imagine-se o seguinte: se uma legião de eleitores se unir em prol de um único político, terá um só representante mesmo que o torne o deputado mais votado da galáxia.
Em 2014, o distritão jogaria no lixo, só em São Paulo, no mínimo 60% dos votos válidos --de 12,7 milhões de eleitores que escolheram ou derrotados ou candidatos apoiados em excesso. Celso Russomanno (PRB), por exemplo, só precisaria de 5% do 1,5 milhão de votos que teve.
Espera-se que o PMDB explique --não lhe faltará oportunidade-- por que considera essa ideia a panaceia das nossas deficiências políticas.
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