- Folha de S. Paulo
Acossado pela prisão de mais um tesoureiro, o PT resolveu adotar a fórmula de Lampedusa, segundo a qual é necessário mudar para que tudo continue igual.
Rui Falcão, o presidente do PT, divulgou resolução, que ainda precisa ser referendada pelo congresso do partido, em junho, a partir da qual os seus diretórios não mais poderão receber doações de empresas privadas. "O partido revitalizará a contribuição voluntária, individual dos filiados, simpatizantes e amigos", afirmou o documento, em tom saudosista.
Visto assim, sem lupa, o anúncio realmente parece ser algo relevante, um "exemplo contra a corrupção", como frisou o site da legenda de Delúbio Soares e João Vaccari Neto.
Afinal, o PT, que, no início dos anos 80, para se sustentar, vendia camisetas e broches com a estrelinha vermelha, recebe cerca de R$ 80 milhões por ano de empresas (em 2013, 75% veio de construtoras).
O problema é que Falcão contou só a metade da história. A resolução proíbe o PT de receber doações, mas não impede os petistas de aceitarem aportes das empresas nas eleições. Ou seja, o partido não pode mais "sujar" as mãos, mas os filiados sim --estudo de universidades dos EUA ("Os despojos da vitória: doações da campanha e contratos governamentais no Brasil") mostrou que, para cada real doado em 2006 para candidatos do PT à Câmara, a benemérita recebeu de 14 a 39 vezes o valor na forma de contratos públicos.
Sobre a manutenção de doações empresariais aos candidatos do partido, Falcão escapou pela tangente e disse que, como não há eleição neste ano, "não é assunto para agora".
Bom, sem eleição agora, o PT apoiou outra medida "saneadora", que elevou, em meio ao ajuste fiscal, o fundo partidário, alimentado por verbas públicas. Se em 2014 recebeu R$ 50,3 milhões, em 2015 ganhará R$ 117,4 milhões, diferença que, de certa forma, compensa o que deverá deixar de obter com empresas. Não existe ponto sem nó na política.
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