Mauricio Puls – Folha de S. Paulo
"O Impeachment de Fernando Collor", novo livro do do sociólogo Brasilio Sallum Jr., faz uma reconstituição bastante esclarecedora do afastamento do então presidente, em 1992.
Embora não trace nenhum paralelo com a atual conjuntura e as ameaças de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a obra permite que apreenda as semelhanças e, sobretudo, as diferenças entre as duas crises.
O estudo de Sallum Jr. mostra o peso decisivo que o personalismo de Collor –hoje senador pelo PTB-AL– teve no desfecho daquele processo.
Eleito em 1989 por uma sigla inexpressiva, o PRN (atual PTC, após uma mudança de nome), Collor montou um ministério desvinculado dos grandes partidos e governava o país por meio de medidas provisórias que reeditava indefinidamente.
O presidente só aceitou incorporar representantes de algumas agremiações ao seu governo em abril de 1992, após sucessivas derrotas no Congresso. Mas ainda assim escolheu ministros que não tinham boa sintonia com os parlamentares.
Seu isolamento político amplificou as acusações de corrupção feitas por seu irmão Pedro Collor.
A fragilidade de sua base parlamentar impediu que ele controlasse a CPI que investigou seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, conhecido como PC, e seu ministério não se empenhou em defendê-lo.
Embora tenha uma base de apoio instável, o governo Dilma tem mostrado um pouco mais sensibilidade em relação à dimensão dos partidos. Tem lhe faltado força para barrar CPIs, mas conseguiu aprovar boa parte das medidas do ajuste fiscal
Outra diferença importante reside na natureza das acusações contra cada governo.
No caso de Collor, as denúncias foram feitas por seu próprio irmão e implicavam o próprio presidente.
No caso de Dilma, as acusações se concentram no desvio de recursos de estatais para os partidos de sua base de apoio, mas não atingem diretamente a presidente.
Existem, contudo, alguns pontos de contato entre as duas crises. Nos dois casos o país estava em recessão, o que resultou em elevadas taxas de reprovação aos dois presidentes.
A impopularidade das duas gestões contribuiu para o surgimento de grandes manifestações de rua.
O livro de Sallum consegue resumir muito bem a história do governo Collor e apresenta um quadro abrangente dos fatores que levaram ao impeachment.
Mas, talvez devido à sua extensão, 424 páginas, contém pequenos erros de revisão. O PSDB foi fundado em 1988, e não em 1987 (p. 58); o partido não elegeu o prefeito de Fortaleza em 1988 (p. 68); Paulo Maluf teve 180 votos no Colégio Eleitoral em 1985, e não 189 (p. 25); a tendência O Trabalho não deixou o PT para formar o PSTU (p. 205), quem fez isso foi a ala Convergência Socialista; e não houve eleições no Brasil ano de 1991 (p. 378).
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