• Segmento critica falta de confiança e cenário de juros e impostos em alta
Ana Paula Machado - O Globo
A indústria foi o setor com a maior queda no PIB. A retração de 4,3% no segundo trimestre é a pior desde o primeiro trimestre de 2009, quando encolheu 5,9%. E, agora, pelo quinto trimestre consecutivo, a indústria tem perda na comparação anual. A retração de 5,2% é a maior desde o terceiro trimestre de 2009, quando caiu 5,8%.
A desaceleração do setor se refletiu principalmente no investimento em ampliação de capacidade e compra de bens de capital. Segundo o IBGE, o investimento medido pela formação bruta de capital fixo (compra de máquinas, equipamentos e investimentos em construção civil) caiu 8,1% frente ao primeiro trimestre. É a maior queda desde o primeiro trimestre de 2009, quando o indicador despencou 10,1%, refletindo a crise global. Frente ao mesmo período de 2014, houve recuo de 11,9%, o pior resultado desde a queda de 12,7% registrada no primeiro trimestre de 1996.
— Não vejo luz no fim do túnel. A minha empresa tem 32 anos. Já passei por vários planos econômicos, mas uma crise como essa nunca vi. Esse governo não passa segurança para nenhum investidor — disse o dono da RTS Indústria e Comércio de Válvulas, Pedro Lúcio.
A fábrica de Lúcio é fornecedora de válvulas para a indústria de óleo e gás, o setor sucroalcooleiro, saneamento e empresas de mineração e siderurgia. Segundo ele, o faturamento em 2014 foi de R$ 30 milhões. Este ano, com a queda nas encomendas, a receita líquida não deve ultrapassar R$ 20 milhões. Dos 220 funcionários empregados no ano passado, restam 110.
Para o presidente executivo da Abimaq, José Veloso, os investimentos no setor não devem se recuperar a curto prazo:
— O segmento de máquinas é o termômetro da economia. O empresário não vai investir no aumento da capacidade nesse ambiente de aumento da carga tributária e dos juros. O ministro (Joaquim) Levy transferiu a riqueza do setor industrial para o setor financeiro. Ele não sabe lidar com a produção.
Skaf: ‘Levy erra’
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, tem avaliação parecida. E diz que o aporte de maior relevância no setor químico foi há dois anos:
— Os investimentos realizados pelas empresas químicas são de manutenção. A questão não é somente de confiança. Nesse caso, os aportes no aumento de capacidade serão feitos se a indústria tiver garantia de fornecimento de matéria-prima e energia.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ressaltou que a queda no PIB deverá ser entre 2,5% a 3%. Em nota, Skaf afirmou que Levy “erra na condução da política econômica ao aumentar impostos, elevar os juros e restringir o crédito, o que só piora a recessão e o desemprego”.
Para Marcelo de Ávila, gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o nível de confiança na indústria está em baixa histórica, inferior inclusive à crise de 2008:
— Nossa expectativa para o PIB de 2015 é de queda de 2,2%. Para a indústria como um todo, de 3,4%.
• Colaborou Lucas Moretzsohn
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