- Folha de S. Paulo
Um bordão do Palácio do Planalto destina-se a convencer o público de que o apuro na economia é uma fase transitória até a reentrada no paraíso do consumo. Estes seriam tempos de "travessia".
Dentre os vários elementos ruins e simultâneos que ocorrem numa crise total como a que vivemos, a reincidência dos governantes na difusão de pistas falsas talvez seja o pior. O conto da travessia é uma farsa.
A economia brasileira entrou num campo de jogo diferente do que prevaleceu na primeira década deste século. Acabou a voracidade pelos produtos do campo, do poço e da mina que favorecera um avanço gigantesco da renda brasileira.
O fato incontornável, senhores governantes, é que as regras do novo campeonato serão duradouras. Prevalecerão ao longo das próximas décadas, com a normalização do ritmo e das características do crescimento da China, de um lado, e com a recuperação dos Estados Unidos, revigorados e mais produtivos, do outro.
Abre-se uma era de valorização dos produtos manufaturados e serviços especializados, bem como do poder de capacitação e adaptação da força de trabalho. Estar integrado aos fluxos mais quentes do comércio global contará pontos valiosos.
Neste ano de 2015 a Índia ultrapassará o Brasil e se tornará a sétima maior economia do planeta. Até mesmo aquele epítome do terceiro-mundismo, terra de Nehru e da utopia agrária e comunitária de Gandhi, reforma-se e abre-se para o mundo.
Quanto tempo levará, e quanta destruição inútil de valor e de futuro essa demora acarretará, até a elite política e empresarial brasileira entender que nós não voltaremos a nos banquetear graciosamente?
As ambições de alcançar níveis europeus de bem-estar foram adiadas. Ou melhor, foram sincronizadas com o seu pressuposto lógico, que é o de atingir os padrões europeus de produtividade. É preciso arregaçar as mangas e trabalhar.
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