segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Paulo Guedes - Descrença e impunidade

- O Globo

• A reforma fiscal e as mudanças no sistema político e na legislação eleitoral permitiriam uma troca de eixo na sustentação parlamentar

Fernando Henrique nos relata na coluna deste domingo no GLOBO seu alerta, ainda em 2013, a Dilma e aos ex-presidentes Sarney, Collor e Lula, quanto aos “perigosos limites atingidos pela descrença da sociedade no sistema político”. FHC teria já então compreendido as enormes dificuldades de promover ajustes econômicos em meio à descrença na política. Portanto, convocava as lideranças ao entendimento para “propor ao país um conjunto de reformas para fortalecer as instituições políticas. Mas a hora para agir já não é mais, de imediato, do Congresso e dos partidos, e sim da Justiça”, prescreve o tucano.

Tenho insistido que, por omissão e imprudência do Executivo e do Legislativo, que ignoraram os sucessivos escândalos de corrupção e a desenfreada roubalheira por tempo demasiado, coube agora ao Poder Judiciário uma revolucionária iniciativa em busca de aperfeiçoamento institucional. Os próximos meses serão decisivos para o desfecho da crise política. Enquanto persistir esta crise, estaremos limitados à tentativa de controle inflacionário recorrendo a juros astronômicos pela insuficiência nas doses de ajuste fiscal.

“As práticas eleitorais e partidárias do presidencialismo de cooptação estão sob julgamento. A criação de 39 ministérios é a garantia do insucesso administrativo e da conivência com a corrupção. Por que não assumimos nossa responsabilidade para mudar o sistema e sair do lodaçal que afoga a política?”, perguntava FHC há pouco mais de um ano. Poderia ser tudo bastante diferente se Dilma estivesse se reunindo com os governadores para tratar de uma abrangente reforma administrativa do Estado apoiada em pacto federativo de enxugamento do número de ministérios e descentralização de recursos fiscais. E também se os presidentes do Senado e da Câmara estivessem tratando de uma reforma fiscal e de mudanças no sistema político e na legislação eleitoral que permitissem essa troca de eixo na sustentação parlamentar.

Por que nunca antes em qualquer lugar do mundo houve um programa de combate à inflação que durasse décadas? Por que estaríamos condenados à mais longa sequência de bilionários escândalos políticos da História? “Enormes somas passando pelas mãos do Estado”, diria Marx aos tucanos e petistas. “Impunidade”, diriam Barbosa e Moro.

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