• Ex-presidente tucano diz que admissão de erros por petistas seria passo inicial para conversa sugerida por Lula
• Para Serra, resposta de Fernando Henrique a acenos de petistas mostra 'cansaço', mas não 'ressentimento'
Daniela Lima – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) indicou que um diálogo com seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente Dilma Rousseff só seria possível se o PT fizesse antes um reconhecimento público de erros cometidos nos últimos anos.
O tucano abordou o tema em artigo publicado neste domingo (2) pelos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo".
Como a Folha revelou na semana passada, Lula autorizou amigos em comum a procurar Fernando Henrique para propor uma conversa sobre a crise. A iniciativa foi criticada por petistas e tucanos depois de se tornar pública.
No artigo deste domingo, FHC diz que os petistas acenaram com a possibilidade de diálogo "tardiamente", por causa do agravamento da crise política e econômica.
Ele rechaçou qualquer conversa que "cheire a conchavo", numa resposta aos que viram na aproximação dos petistas uma tentativa de conter as pressões pelo impeachment de Dilma e as investigações da Operação Lava Jato.
"Essa constatação não implica dizer um 'não' intransigente ao diálogo", escreveu. "Decidam a Justiça, o TCU [Tribunal de Contas da União] e o Congresso o que decidirem, continuaremos a ter a Constituição e a premência em reinventar nosso futuro."
"É hora de reconhecerem que a política democrática é incompatível com a divisão do país entre 'nós' e 'eles'. (...) Cabe aos donos do poder o mea-culpa de haver suposto sempre serem a única voz legítima a defender os interesses do povo", conclui FHC.
Para o senador José Serra (PSDB-SP), o artigo de FHC evidencia "o legítimo cansaço de quem viu seu legado ser satanizado por anos". "Mas não há sinal de ressentimento ou de vingança", pontuou.
Ministros de Dilma expressaram apoio à iniciativa de Lula. Dilma também tem feito acenos na direção da oposição, como o convite aos governadores para debater a crise na sexta-feira (31). "É nossa obrigação, mesmo com as diferenças partidárias, dialogar para que o país saia com rapidez de suas dificuldades", escreveu Dilma neste domingo, em sua conta no Twitter.
Para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), um defensor da aproximação com a oposição, não há "saída para a crise sem um entendimento que preserve as regras do jogo democrático".
Pessoas próximas a Lula acham que a revelação de sua iniciativa tornou a conversa inviável. Aliados do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), mantiveram o tom crítico. "Só haveria diálogo se Dilma visse que perdeu condições de governar e antecipasse as eleições para comandar o próprio processo de transição", disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).
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