- Folha de S. Paulo
A nota em que a oposição defende o afastamento de Eduardo Cunha merece o prêmio "Me engana que eu gosto" de 2015. A aliança nunca esteve tão forte, apesar do surgimento de provas contundentes sobre o envolvimento do presidente da Câmara no petrolão.
O documento foi divulgado no sábado, para vender a ideia de que PSDB e DEM não sujariam as mãos em socorro ao correntista suíço. No mesmo dia, representantes dos dois partidos se reuniram com ele secretamente para tratar do que os une: o impeachment de Dilma Rousseff.
O encontro com Carlos Sampaio e Rodrigo Maia teve efeito tranquilizador para ambas as partes. Cunha garantiu apoio para ficar onde está, desde que continue a jogar contra o Planalto. Os oposicionistas também saíram felizes, porque temiam um acordão do peemedebista com o PT.
O resultado da conversa foi uma nota envergonhada, sem qualquer referência a desvios na Petrobras ou dinheiro na Suíça. O texto diz apenas que o deputado "deve afastar-se do cargo, até mesmo para que possa exercer, de forma adequada, seu direito constitucional à ampla defesa". Só faltou agradecer a amizade e pedir desculpas por qualquer coisa.
Como Cunha já avisou que prefere ficar na cadeira, o efeito prático da nota é nenhum. Mas os tucanos ganharam um pretexto para enrolar a imprensa e rebater as cobranças de que só pedem providência quando a denúncia atinge o governo.
O Planalto, por sinal, continua sem reação diante do presidente da Câmara. Na semana passada, dois ministros petistas, Jaques Wagner e Edinho Silva, foram visitá-lo em busca de um cessar-fogo. Só conseguiram valorizar seu cacife para negociar com a oposição.
No fim do feriado, o clima no governo era de pessimismo. Para auxiliares da presidente, as novas provas contra Cunha aceleraram a engrenagem do impeachment, e a comissão especial para debater o tema deve ser instalada já nesta terça.
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