• Ministros farão corpo a corpo em busca de votos para impedir aprovação de processo de impeachment
Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut e Geralda Doca - O Globo
- BRASÍLIA- Trabalhando com o pior cenário — o de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ( PMDB- RJ) irá aceitar um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff hoje ou nos próximos dias — o governo começou a montar ontem uma operação de guerra. O plano do Executivo, agora, é o de se articular politicamente para obter os votos necessários na Câmara para impedir a aprovação da abertura do processo de impeachment. Para isso, estão sendo oferecidos aos parlamentares cargos de segundo escalão no governo.
No corpo a corpo dos votos, ministros de Dilma já estão entrando em contato com aliados para obter maioria na Câmara. No domingo, a presidente convocou os ministros da articulação política para mais uma reunião com o objetivo de tentar mapear o comportamento de Cunha em relação ao pedido de impeachment. Desde sábado, Dilma tem se reunido com os ministros Jaques Wagner ( Casa Civil), Ricardo Berzoini ( Secretaria de Governo) e José Eduardo Cardozo ( Justiça). Ontem, esses ministros voltaram ao Alvorada. No fim do dia, Berzoini reuniu os lideranças petistas no Palácio do Planalto. Hoje, Dilma faz uma nova rodada de conversas com os ministros da coordenação política, e Berzoini reúne, em seguida, os líderes aliados da Câmara.
Antes de partir para o varejo para virar votos em plenário, os ministros Berzoini e Jaques Wagner estão investindo na mobilização dos líderes, chamando- os para acertar nomeações de segundo escalão pendentes. Berzoini ligou para o líder do PTB, Jovair Arantes — que tinha participado do boicote à votação dos vetos de Dilma — e acertou uma conversa hoje para liberar cargos: a presidência da Conab, uma vice- presidência da Caixa ( para Rubens Rodrigues, ex- presidente da Conab até semana passada), uma vicepresidência do BB ( para Valmir Campelo, ex- ministro do Tribunal de Contas da União), além da manutenção de Armando Monteiro no Ministério da Indústria e Comércio.
— Jovair começou a negociar outros cargos. Se ele começar a dividir os cargos com outros deputados, pode mudar votos, sim ( no Congresso) — disse um dos vice- líderes do PTB.
A avaliação de auxiliares de Dilma é que, com o avanço das denúncias da Operação LavaJato, Cunha joga para sobreviver e que sua estratégia passa por bombardear a presidente com o impeachment enquanto ainda tem poder para isso. Ministros próximos à presidente admitem que a situação do governo é muito difícil, pois não há como negociar com Cunha, até porque seria um escândalo tentar salvá- lo.
— A tática de Cunha é morrer atirando. Nós não temos controle sobre isso. Não temos nada a oferecer para ele. O governo não tem como oferecer qualquer alternativa para salvá- lo, isso seria um escândalo. A gente tem é que fazer maioria no Congresso — disse ontem ao GLOBO um assessor direto de Dilma.
No Palácio do Planalto, a tese que circula é a de que, como Cunha está acuado, pensa que pode protelar sua queda abrindo um impeachment contra Dilma. Ou seja: quanto mais instável sua situação na presidência da Câmara, maior a chance de aceitar o pedido de impeachment.
Cunha, “incontrolável e contraditório”
Nas reuniões, ministros admitem que Cunha “é incontrolável”, e que não volta atrás na sua postura de confronto com o Planalto, sendo favorável às ações da oposição por um processo de impeachment contra a petista. Berzoini conversou com muitos aliados e admitiu que o Planalto não consegue obter informações precisas sobre os passos de Cunha. Ministros disseram a Dilma que estão recebendo “informações contraditórias” sobre o comportamento de Cunha.
— Ninguém sabe bem o que ele ( Cunha) vai fazer — se queixou um ministro.
Berzoini pediu ajuda a aliados para ainda tentar um diálogo com Cunha, mas recebeu a avaliação de que o presidente da Câmara está irredutível e culpa o governo, em especial o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pelo vazamento de informações sobre as investigações de suas contas na Suíça, dentro da Operação LavaJato. De acordo com amigos de Cunha, ele e o ex- presidente Lula têm a mesma opinião sobre a atuação de Cardozo neste caso.
Segundo um aliado experiente, o problema é que o Planalto não tem qualquer diálogo com Cunha e, por isso, prepara- se para o pior, a partir de hoje. Na avaliação desse aliado, o Planalto erra ao tentar enfraquecer Cunha, porque isso só o leva a uma posição mais radical, ainda mais agora que sua situação piorou com as informações de suas contas na Suíça.
Dilma sabe que o vice- presidente Michel Temer está numa posição desconfortável, porque não tem como controlar Cunha, embora ambos sejam do mesmo partido. Líderes peemedebistas lembram o caráter pragmático de Cunha.
— Cunha é Cunha. Ele tem foco, é um obstinado. Se alguém achar que o domina a ponto de fazê- lo mudar de posição, está enganado. Ninguém, nem Temer, tem como controlá- lo — disse um ministro do PMDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário