Por Ana Conceição | Valor Econômico
SÃO PAULO - O Banco Central revisou suas projeções para a economia neste ano e agora espera uma contração muito mais intensa da atividade, puxada por uma piora expressiva nos investimentos. A estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do país saiu de queda de 2,7% para recuo de 3,6%, de acordo com dados divulgados hoje no Relatório de Inflação do BC.
Pelo lado da oferta agregada, a projeção para o PIB da indústria saiu de queda de 5,6% para recuo de 6,3% em 2015, refletindo as revisões nas projeções para a indústria de transformação (de -8,2% para -9,1%), construção civil (de -7,8% para -8,8%) e indústria extrativa (de +6,1% para +4,5%), esta repercutindo efeitos da greve dos petroleiros e da paralisação da atividade da Samarco após o acidente em Mariana (MG).
O setor de serviços deverá recuar 2,4%, ante queda de 1,6% prevista no relatório anterior, de setembro, acompanhando as revisões nas atividades imobiliária e aluguel, comércio e outros serviços.
O único setor com atividade positiva, a agropecuária, teve sua estimativa de crescimento rebaixada, de 2,6% para 1,7% em 2015 por causa da revisão para baixo na safra de grãos, diz o BC.
No lado da demanda, a autoridade vê uma queda ainda maior no consumo das famílias, de 3,8%, ante 2,4% previstos antes e também na formação bruta de capital fixo, para 14,5%, de 12,3% estimados anteriormente. A contribuição da demanda interna para a variação do PIB deste ano foi estimada pelo BC em menos 6,2 pontos percentuais.
Já o consumo do governo foi revisado para cima, embora ainda permaneça negativo. Em vez da queda de 1,4% estimada anteriormente, o resultado deverá ser de recuo de 0,3%.
Em relação ao componente externo da demanda agregada, o crescimento anual das exportações foi revisto de 8,0% para 5,1%. A variação das importações foi revisada para -14,4% (-10,7% no Relatório anterior). A contribuição do setor externo para a variação do PIB em 2015 deverá atingir 2,6 pontos percenuais, a maior desde 2003, diz o BC.
PIB de 2016 deve cair 1,9%
Para 2016, o Banco Central prevê uma retração econômica de 1,9%. “O resultado, que incorpora cenário de incertezas associadas a eventos não econômicos, se aproxima do carregamento estatístico estimado para o ano”, afirma a autoridade monetária no relatório divulgado hoje. A estimativa do BC é mais “otimista” que a dos analistas de mercado, que preveem recuo de 2,8% para a economia no próximo ano, segundo o boletim Focus.
No ano que vem, a produção agropecuária deverá aumentar 0,5%, depois de um crescimento estimado em 1,7% para 2015. A indústria deve cair 3,9%, terceira retração anual consecutiva, após despencar 6,3% neste ano. A indústria extrativa deverá cair 4%, após aumentar 4,5% em 2015, estimativa, segundo o BC, compatível com as metas de produção de petróleo e de minério de ferro anunciadas pelas principais empresas do setor e, em especial, com o impacto negativo do acidente da Samarco em Minas Gerais. A indústria de transformação deve recuar 3,8%, diante da reduzida confiança dos empresários e nível de estoques ainda elevado, “que poderá ser mitigado por eventuais ganhos de competitividade decorrentes da depreciação cambial”, segundo o BC. Na construção civil a queda deverá chegar a 5,0%. Essa estimativa, diz o BC, “evidencia a dinâmica ainda negativa do segmento residencial, afetado por elevados estoques de imóveis e restrições de financiamento”.
O setor de serviços deverá ter novo recuo em 2016, de 1,2%, após queda de 2,4% neste ano, afetado pela queda da indústria e do consumo das famílias. Comércio, transportes, outros serviços e serviços de informação devem se contrair 3,3%, 3,0%, 1,7% e 0,5%, respectivamente, segundo estimativas do BC.
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias deverá cair 2%, após recuo de 3,8% em 2015, e a formação bruta de capital fixo, indicativo dos investimentos produtivos, deverá cair 9,5%, após recuo de 14,5% neste ano. No caso das famílias, o BC considera que haverá uma evolução mais favorável da massa ampliada de rendimentos (massa salarial e benefícios sociais recebidos pelas famílias), que deverá repercutir o aumento significativo esperado para o salário mínimo, e a trajetória mais benigna da inflação. O consumo do governo deverá sair de queda de 0,3% para aumento de 0,4%.
Quanto aos investimentos, a queda menor em relação a este ano reflete, em parte, a perspectiva de que os choques que afetaram a formação bruta neste ano não ocorram com a mesma intensidade em 2016. A retração anual repercute, em especial, o cenário negativo para a construção civil e o recuo acentuado na absorção de bens de capital, em ambiente de encarecimento do crédito e níveis historicamente reduzidos da utilização da capacidade instalada. A demanda interna deverá contribuir com menos 3,7 pontos percentuais para a variação do PIB em 2016, segundo cálculos do BC.
Por fim, o menor dinamismo da economia brasileira seguirá reduzindo as importações de bens e serviços, que deverão recuar 11,0% em 2016, contrastando com a projeção de crescimento de 2,0% para as exportações. Assim, a contribuição do setor externo para a variação anual do PIB em 2016 está estimada em 1,8 ponto percentual.
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