Daniela Lima / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - As declarações da cúpula do PMDB do Rio de Janeiro de apoio à manutenção do vice-presidente, Michel Temer, no comando nacional da legenda não devem ser vistas como um aceno definitivo, afirmam dirigentes da sigla.
A ala fluminense do partido se comprometeu, no último domingo (20), a participar de uma espécie de "cessar-fogo" e contribuir para baixar a temperatura dentro da legenda, dando um fim às críticas públicas a Temer.
O acerto foi feito em um jantar oferecido pelo vice aos principais nomes do PMDB no Rio: o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral.
No dia seguinte, porém, aliados desses peemedebistas informaram à ala que faz oposição a Temer dentro do PMDB que a cúpula da sigla no Rio poderá dar suporte a uma chapa alternativa ao vice na convenção nacional da sigla, em março.
A oposição interna a Temer é capitaneada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Nas últimas semanas, ele passou a conversar com outros líderes da sigla sobre a possibilidade de apear o vice –presidente do PMDB desde 2005– do controle da sigla.
A articulação poderia resultar numa troca que levasse o próprio Renan ao comando do PMDB, embora, nos bastidores, ele diga que vai trabalhar pela construção de uma chapa encabeçada por um nome como o ex-presidente José Sarney.
Outra opção que surge nas conversas é o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ele tem se portado como aliado do grupo de Temer, mas já manifestou a colegas o desejo de comandar a legenda.
A ofensiva de Renan passou a preocupar aliados do vice quando o senador se alinhou ao PMDB do Rio. O peso do diretório fluminense pode ser determinante para uma derrota de Temer.
Por isso, o vice se apressou em tentar acalmar os ânimos de caciques no Estado. O PMDB do Rio é hoje aliado da presidente Dilma Rousseff contra a ameaça de impeachment e contou com o apoio de Renan para coordenar o retorno do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) –aliado do Planalto– à liderança da sigla na Câmara.
A queda de Picciani havia sido articulada semanas atrás com o aval de Temer. O deputado, no entanto, conseguiu retomar o posto.
Aliados de Pezão, Paes e Cabral dizem que eles "não poderão deixar de retribuir" o gesto de Renan, caso o senador leve a cabo a decisão de travar uma disputa contra Temer na convenção da sigla.
Nos bastidores, os defensores da saída de Temer dizem que o vice esgarçou as relações no partido na tentativa de dar fôlego ao impeachment e se apresentar como a alternativa a Dilma.
Afirmam ainda que Temer abandonou o estilo "cordato e moderado" que o sustentou no controle do PMDB, passando a apresentar um comportamento mais "agressivo e intervencionista".
Para justificar a resistência, dizem ainda que o vice tem atuado à sombra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está em guerra aberta com o Planalto para tentar manter-se no cargo e fustigar Dilma.
Aliados de Temer rebatem as acusações e dizem que é ridículo vincular as atitudes do vice a Cunha e que, ao longo de todos esses anos, os adversários de Temer tentaram mas não tiveram sucesso nas tentativas de derrubá-lo.
A estratégia é reforçar as ligações históricas do vice com nomes de influência no PMDB, recorrendo, inclusive, a nomes que poderiam se aliar a Renan, como o senador Jader Barbalho (PA).
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