• Felipe Peixoto, que quer concorrer à prefeitura de Niterói, teria tomado decisão para preservar imagem
Luiz Gustavo Schmitt, Carina Bacelar – O Globo
Em meio à crise e à falta de pagamentos que ameaçam emergências de hospitais do Rio, o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, deixará o cargo no próximo dia 31. Quando assumiu a função, em janeiro, era esperado que ocupasse o posto até abril de 2016. Nos bastidores, fontes do governo dizem que ele abreviou sua gestão para não ter a imagem desgastada, já que deve concorrer à prefeitura de Niterói no ano que vem. Ele nega:
— A minha saída estava acordada com Pezão desde que assumi. O governador até achou que conseguiria me demover da decisão, mas não vou abrir mão do meu sonho de disputar a eleição em Niterói.
A saída de Peixoto foi confirmada ontem pelo próprio secretário, pouco antes de o novo titular da pasta ser anunciado. Caberá ao ortopedista Luiz Antônio Teixeira Júnior contornar a crise a partir do dia 1º de janeiro de 2016.
Teixeira, de 42 anos, é atualmente secretário de Saúde de Nova Iguaçu, cargo que assumiu em 2013. Seu nome teria sido indicado por Sérgio Côrtes, ex-secretário estadual de Saúde. Formado pela Universidade Iguaçu (Unig), ele teria sido recomendado com base em critérios técnicos. Teixeira não é filiado a partidos políticos, sendo vice-presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Peixoto, por sua vez, é filiado ao PDT e chegou a ser cotado para concorrer como vice de Pezão no pleito de 2014. Em nota, o novo secretário disse que tem pela frente um desafio “enorme”, mas que “a experiência como médico e gestor podem contribuir”.
Trabalho já começa amanhã
Mesmo que só assuma a pasta no ano que vem, o futuro secretário já começa suas atividades amanhã, quando vai a Brasília para um encontro de trabalho com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e técnicos da pasta federal. O objetivo seria pedir verbas. Ontem, ele já conversou com o secretário Felipe Peixoto e com o governador Luiz Fernando Pezão.
Não é a primeira vez que Teixeira pede recursos ao governo federal, segundo colegas. O diretor do Hospital Geral de Nova Iguaçu, Joe Cestello, lembra que o colega começou na Secretaria municipal de Nova Iguaçu da mesma forma.
— Começamos a agenda em Brasília, e isso incluiu a equipe técnica toda. Pedimos fiscalização aqui para mostrar que precisávamos de ajuda financeira — recorda Cestello. — Ele é um cara novo, acessível, que trabalha o tempo todo, despacha sábado e domingo.
Numa entrevista ontem, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Pablo Vazquez, classificou a atual crise da saúde como a pior da história do Rio. Acompanhado de representantes de conselhos de medicina, enfermagem e associações de classe, Vazquez anunciou que estão sendo estudadas ações judiciais contra quem eles julgam ser os responsáveis pelos problemas no setor. Segundo o presidente do conselho, duas organizações de saúde e a Fundação Rio Saúde poderão ser incluídas na ação, além dos governos municipal, estadual e federal.
— O déficit é de cerca de R$ 700 milhões. Relatamos o atual quadro ao ministro da Saúde (Marcelo Castro), que cobrou explicação dos secretários municipal e estadual de Saúde. Na última última sexta-feira, houve uma reunião entre eles, e ficou acertado que tudo seria resolvido. No entanto, a situação não se normalizou — disse Vazquez. — Estamos aflitos, pois existe a possibilidade de pacientes morrerem no Rio esperando na porta de hospital, sem médicos e sem remédios.
Sem previsão de recursos
Enquanto isso, a Secretaria da Fazenda diz que ainda não há previsão de pagamentos no setor de saúde. O titular da pasta, Julio Bueno, afirmou que “está lutando para tentar conseguir recursos”, mas que não há data para liberação de verbas para organizações sociais (OS) que administram hospitais.
Felipe Peixoto atribuiu a situação crítica na saúde à falta de repasses. Ele disse que este mês ainda não entrou dinheiro em caixa para pagar aos profissionais das organizações sociais, como técnicos e enfermeiros, que não receberam salários e nem a segunda parcela do 13º. Já os médicos que têm contrato de pessoa jurídica com as OS estão há quase dois meses sem vencimentos:
— Segurei a crise até 10 de dezembro. Gostaria de segurar até o final, mas, como não bateu repasse nenhum, os funcionários começaram a parar. A saúde precisa de no mínimo R$ 350 milhões mensais. No primeiro trimestre, cheguei a receber R$ 80 milhões a cada mês — disse o secretário, acrescentando que, diante da falta de insumos nas unidades de saúde, conseguiu que laboratórios doassem remédios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário