Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ainda não confirma a negociação, mas já tem argumentos para rebater a ideia de que a filiação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para concorrer à Presidência da República, em 2018, pode representar uma guinada conservadora do partido socialista. "Isso não é uma via de mão única. Quem entra no partido também pode mudar", afirma Siqueira. O dirigente cita o caso do senador alagoano Teotônio Vilela (1917-1983). Apoiador da ditadura militar, saiu da Arena, legenda que sustentava o regime, e foi para o MDB, onde passou a defender a redemocratização.
Siqueira evita falar diretamente sobre as tratativas com Alckmin, num circuito do qual estaria participando o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Julio. "Quando se está conversando com alguém, com políticos de outros partidos, não é assunto para se conversar pelos jornais", despista.
Mas reafirma que o partido está construindo uma candidatura para 2018. Sem uma liderança nacional desde a morte do presidenciável e governador de Pernambuco Eduardo Campos, em meio à campanha do ano passado ao Planalto, o PSB quer entrar no páreo, ocupando seu espaço à esquerda - onde o PT, em crise, tende a desidratar. "Não queremos ser coadjuvantes ou caudatários de força política alguma", diz o dirigente.
Como preparação à candidatura de Campos, o PSB ampliou, nas eleições estaduais e municipais anteriores, seu leque de alianças, que era basicamente com siglas de esquerda, especialmente do tradicional aliado, o PT, com o qual rompeu em 2013. Aproximou-se do PSDB em vários Estados, como Paraná, Alagoas, Pará, Pernambuco, Amazonas e São Paulo, onde o presidente estadual do partido, Márcio França, é o vice de Alckmin.
Reeleito, o governador tucano não pode concorrer ao mesmo posto e seu objetivo principal é reunir forças para a corrida presidencial, mirando cargo que já disputou em 2006. No entanto, o senador mineiro e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, derrotado por Dilma Rousseff no ano passado, aparece na liderança das pesquisas e vem consolidando seu controle sobre o partido. Em cenários levantados pelo instituto Datafolha, e divulgados no fim de semana, Aécio variou entre 26% e 27% das intenções de voto. Quando substituído o candidato tucano, Alckmin aparece com 14%.
Os números reduzem a chance de Alckmin disputar o Planalto pelo PSDB e, com isso, o tucano encontra no PSB uma alternativa. A candidatura ainda poderia impulsionar Márcio França à sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes.
Os projetos de Alckmin e PSB são coincidentes. E podem representar um golpe nas pretensões de Aécio, cujo desempenho contra Dilma foi impulsionado pelo voto paulista. No segundo turno, o senador obteve 30% de sua votação nacional em São Paulo.
O programa do PSB, afirma Siqueira, estará ancorado em ideias progressistas e no crescimento de sua base social, formada por "movimentos sindicais, de bairros, de negritude, LGBT e da juventude". É um campo de centro-esquerda no qual Alckmin não tem ligações. Pelo contrário, a gestão do governador tem sido marcada pelas divergências com movimentos sociais. O exemplo mais recente são os protestos de alunos contrários ao fechamento e à reestruturação da rede pública de ensino.
O dirigente do PSB afirma que, apesar de as políticas públicas serem conduzidas pelos eleitos, não haveria a possibilidade de o partido ser traído em seu programa, caso chegue à Presidência por um político de perfil conservador como Alckmin. "Ninguém vai dar pernada no PSB", afirma.
Siqueira cita o caso do ex-governador do Rio e deputado federal pelo PR, Anthony Garotinho, que concorreu à Presidência pela sigla, em 2002, como uma demonstração de que o PSB já se apresentava com independência, com projeto próprio em relação ao PT.
Siqueira defende que todas as quatro grandes conquistas sociais desde a redemocratização - SUS, universalização da educação básica, seguro-desemprego e previdência social rural - precedem a chegada do PT ao poder. Esses direitos, diz, estão ameaçados pela "visão estritamente liberal" que avança com a crise petista.
No Rio, porém, o PSB tem flertado com outro político de perfil conservador, o senador Marcelo Crivella (PRB), para concorrer à prefeitura da capital, e ser nome forte no Estado, depois da destituição do senador Romário da presidência do diretório regional.
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