- Folha de S. Paulo
A sensação é a de que o governo está desmilinguindo. A conjunção das crises econômica e política, ampliada pelos inéditos índices de rejeição a Dilma (nunca antes na história deste país um presidente foi tão impopular) e pelo inesgotável fluxo de pouco abonadoras informações policiais, tende a ser fatal para o partido no poder.
O PT deverá pagar um preço político alto nos próximos pleitos. Não dá para dizer que é injusto, já que o partido não só está envolvido no que pode ser descrito como uma orgia de corrupção mas também cometeu erros graves na condução da economia. Parece-me precipitado, porém, decretar desde já que o caos e a anomia se assenhoraram de Brasília.
Os sucessivos golpes que o Congresso, em especial a Câmara, dispara contra o governo comportam vários adjetivos, mas não podem ser qualificados como irracionais. As pautas-bomba, que poderiam terminar de afundar as contas públicas, têm pelo menos dois anteparos: o Senado, discretamente mais responsável que a Câmara, e o veto presidencial. O cálculo de certos deputados é que eles podem, numa só tacada, posar de amigos de segmentos do eleitorado, pressionar o governo a liberar verbas e cargos (caso da chamada base aliada) e ainda impor maior desgaste a Dilma e ao PT (objetivos da base aliada e da oposição).
Em princípio, tudo isso é possível mesmo, mas não é um jogo sem riscos. Em primeiro lugar, no curto prazo, ele alimenta a instabilidade política e a incerteza econômica, o que contribui para tornar a recessão mais intensa e mais prolongada do que o estritamente necessário. O problema maior, porém, é que, enquanto políticos se dedicam a seus projetos pessoais, o país deixa de tratar da questão que realmente importa, que é rediscutir os termos do pacto social. Enquanto continuarmos fingindo que temos renda para ser uma Suécia, seguiremos estruturalmente condenados a flertar com fracasso.
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